Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Vocações sacerdotais

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de julho de 1940, N. 410, pag. 2

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A propósito do Congresso das Vocações Sacerdotais, que acabou de ser realizado em Minas Gerais, a Folha da Noite, desta Capital, teceu algumas considerações, em que feriu principalmente a tecla da nacionalização do Clero, fazendo menção das leis de nacionalização do púlpito. A conclusão do artigo é que já não é possível permitir que mãos estrangeiras continuem a plasmar o precioso material, que é o coração do homem brasileiro e qμe, assim como queremos nacionalizar a escola, devemos nacionalizar a Igreja (sic).

Bem. O Clero nacional, embora escasso, constitui uma das mais legítimas glórias do Brasil. Os varões que a compõem, são de uma tal elevação e de uma tal têmpera de caráter, que seria de desejar que todas as pessoas, investidas de alguma responsabilidade na vida do país, soubessem imitar-lhes as virtudes e o zelo pela verdadeira grandeza da pátria, e o desprendimento com que sabem esquecer-se de si próprios para considerar apenas a tarefa que lhes foi confiada. Estes homens de Deus sempre souberam dar ao problema das vocações sacerdotais os cuidados devidos, e pode-se afirmar a priori que o Congresso de Minas Gerais adotou as medidas mais acertadas, que o momento exigia.

Entretanto, se nos é lícito tratar do assunto, diremos que, de fato, é preciso que o Clero nacional seja numeroso, e só por si baste às necessidades espirituais do povo brasileiro. Não porque haja algum perigo na colaboração de sacerdotes estrangeiros. Isto é uma bobagem, a que só a mórbida exasperação nacionalista do século pode dar aparências de razão. A Igreja é Católica, isto é, universal e a prevalecer o critério, que infelizmente está em moda, o Japão estaria em seu direito, quando liquidou a incipiente obra de São Francisco Xavier. Da mesma forma os bárbaros germânicos que assassinaram São Bonifácio, apenas teriam feito um ato digno de louvor. E assim os exemplos se multiplicariam quase ao infinito.

A verdadeira razão é que o Clero nacional tem outra facilidade para penetrar no íntimo do coração e das consciências, estando mais apto a compreender os problemas espirituais que se lhe deparam. Além disso, ponto de transcendental importância, o Clero é a honra de uma nação, e em seu desenvolvimento está o sinal de que esta nação está correspondendo à vocação que Deus lhe deu.

Mas não basta afirmar a necessidade do Clero nacional. O padre não é senão o fruto de uma vocação, e a vocação é algo de muito delicado, que precisa de ser cultivado com muito carinho.

Contra ela se opõe a laicidade oficial, que impressiona de modo especial as classes inferiores da população. Ainda, por exemplo, o registro civil, tornado essencial à subsistência, é sobreposto aos Santos Sacramentos do Batismo e do Matrimônio, que não tem nenhum valor perante as repartições públicas. Além disso, o desregramento dos costumes e, o que ainda é pior, o desregramento de costumes infantis, favorecidos pela imprensa, pelo cinema e pelo rádio, que aí veem sinais de precocidade e de esperteza das crianças, é uma espécie de furacão que faz murchar as vocações incipientes.

Todo o trabalho feito no sentido de remediar tais males será de fato uma contribuição leal à solução do problema do Clero nacional. Aliás, francamente, estranhamos que se tenha em vista em matéria de nacionalização exatamente os abnegados sacerdotes estrangeiros, que abandonaram suas pátrias para vir auxiliar-nos, quando, pelo interior a dentro, se formam e se desenvolvem quistos de populações estranhas, que, apesar de todas as proibições legais, não cessam de florescer.


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