Plinio Corrêa de Oliveira

 

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King Quisling?

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de junho de 1940, N. 406, pag. 2

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Como se sabe, Quisling foi o traidor norueguês que entregou seu país nas mãos dos nazistas. Daí por diante, este nome próprio se transformou em sinônimo de traidor, e, na Inglaterra, inventou-se um verbo, “to quisling”, que significa trair. E, quando o exército belga capitulou, o Rei Leopoldo foi cognominado, ainda pelos ingleses, “King Quisling”, isto é, Rei Traidor.

Pois bem, ao que parece há um novo “King Quisling” em perspectiva.

Lembram-se do ex-Eduardo VIII, atualmente Duque de Windsor?

A crônica deste homem é longa e escandalosa. Quando ainda Príncipe de Gales, todo o mundo perguntava porque não se casaria o herdeiro do trono mais importante do mundo. Mas, as pessoas bem informadas sabiam que uma certa estrangeira fazia o Príncipe esquecer de seus deveres. E os verdadeiros ingleses tinham calafrios ao pensar naquele caso latente que, mais dia menos dia, inevitavelmente viria à luz, como um tumor maligno. Entretanto, o Príncipe cuidava de sua popularidade, visitando com sensacionalismo os mineiros e operários. Então, uma estrangeira de vida irregular, pois que divorciada algumas vezes, reinaria sobre a Inglaterra?

Morre Jorge V. Viva Eduardo VIII! Mas, inexplicavelmente, a coroação do novo rei se vai protelando mais do que seria razoável. É que a estrangeira, como uma nuvem carregada, obscurece o futuro império. O tumor maligno está prestes a vir a furo. Afinal o escândalo estoura, num momento de perigosas fermentações esquerdistas. Não importa: o Rei se agarra à Coroa, e quer metê-la à força sobre a cabeça da estrangeira. Porém, sendo forçado a optar entre o prazer e o dever, como o mais irresponsável dos gozadores da vida, manda às urtigas o prestígio dinástico, a que estão presos, indissoluvelmente, o prestígio da Grã Bretanha e a solidez do Império, e assina uma abdicação escrita à máquina, cujo texto terá desaparecido dentro de dezoito anos, conforme a opinião dos técnicos. E o chefe da Igreja Anglicana afundou pelo mundo, numa vida fácil, ao lado de sua companheira assaz “défraichie”.

Coisa curiosa! Os igualitários, que não cessam de gritar contra as desigualdades oriundas do nascimento, entraram a cantar loas ao procedimento de Eduardo VIII e incriminar a resistência que lhe foi oposta por pessoas dignas de todo elogio e que determinou a abdicação. Pois então as vantagens obtidas gratuitamente pelo nascimento não se hão de compensar de certo modo, por ônus maiores? Porque haveria Eduardo VIII de ter tudo para si?

O Duque de Windsor, porém, quer tudo. Sua companheira é acusada de estar ao serviço da Alemanha nazista. Que importa? Ele mesmo irá à Alemanha, tomará chá com o sr. Hitler em Berchstesgaden, apreciará os resultados obtidos com o totalitarismo, e, de lá mesmo, pronunciará um discurso comprometedor dos interesses de sua Pátria.

Estala a guerra. O Duque de Windsor é nomeado agente de ligação entre os Estados Maiores inglês e francês. Por pouco tempo exerce as funções; demite-se logo. Evidentemente, é um “frondeur”. Agora, vem-nos a notícia de sua provável volta ao trono, na atual situação angustiosa para os aliados. Que ele o quer, é certo. Conseguirá? Deus o sabe.


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