Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Isenção de impostos

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 2 de junho de 1940, N. 403, pag. 2

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É costume assaz aconselhável este dos Governos isentarem do pagamento de impostos certas atividades privadas, que redundam em apreciável benefício para a coletividade. Aqui mesmo em nosso país esta prática oficial já tem o seu desenvolvimento, incentivando o progresso de algumas manifestações da iniciativa particular. Ainda recentemente o Governo paulista baixou um decreto isentando de impostos os clubes esportivos do Estado.

Quer-nos parecer, entretanto, que esta facilidade agora concedida ao florescimento esportivo, não consulta convenientemente os interesses vitais da população. De fato, o cultivo do esporte é feito atualmente, entre nós, de forma a não se auferir as vantagens naturais da cultura física e, além disso, com uma certa mentalidade absolutamente errônea que traz consigo a deseducação e o embotamento espiritual. É verdade que o Estado se propõe, através de seu Departamento especializado, sanar o primeiro defeito; sobre o que temos as nossas dúvidas, visto como os funcionários públicos encarregados deste mister não são feitos de massa diferente do comum dos mortais, que deram às atividades esportivas o aspecto em que se encontram.

Mas, pondo de parte esta questão, sempre ficará o problema muitíssimo mais grave do mau espírito com que se pratica o esporte hoje em dia. É comum, por exemplo, encontrar-se aos domingos, magotes de rapazes que se dirigem, com aquele jeito inconfundível, a algum campo de várzea. Quando isto nos acontece, há uma interrogação que nos punge inelutavelmente: esta gente já teria assistido à Missa? E não é só o mal enorme de semelhante descuido pela salvação eterna, que poderá ser fatal, o que nos impressiona.

Desgosta-nos, também, essa despreocupação elementar de qualquer ideal superior, de qualquer elevação espiritual. Estes pobres rapazes caminham aos trancos, tratando-se reciprocamente com palavrões e insultos aviltantes: é assim que são amigos. Depois, durante horas a fio, vão extenuar-se sob a ardência que os vapores das várzeas dão aos raios do sol. E afinal, estropiados, enlameados, suarentos e malcheirosos, retiram-se convencidos de que se divertiram. Não existe melhor processo de bestializar um povo; o próprio sentimento de amizade se atrofia numa espécie de simpatia animal.

Que não dizer do resto? A pessoa humana assim degradada se torna a célula natural de um estado totalitário de direita ou de esquerda. E a mística do esporte é o antecessor lógico da mística da força bruta, da mística da violência. Cumpre, portanto, barrar o caminho a esta mística, não lhe dando foros de cidade.

Mas, principalmente, torna-se necessário incentivar as forças espirituais, o que vale dizer o admirável movimento religioso, que se nota em São Paulo. É fato que o benefício da isenção de impostos também abrange as associações religiosas que mantêm obras de beneficência. Entretanto, não é só caridade para com o corpo que deve ser protegida, mas a caridade muito superior, que se dirige para a alma do homem.

Infelizmente neste particular as nossas associações religiosas têm que vencer os maiores óbices em matéria fiscal, sendo que a Prefeitura Municipal se tem salientado pelas dificuldades que tem oposto. Não seria o caso de isentá-las também, pelo simples fato de serem associações religiosas?


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