Plinio Corrêa de Oliveira

 

Bélgica, Holanda e Luxemburgo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 12 de maio de 1940, N. 400

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A invasão da Bélgica, da Holanda e do Luxemburgo não poderia passar sem um protesto vigoroso da consciência católica. A ausência absoluta de qualquer circunstância que pudessem servir, ao menos, de pretexto para tal ato, deu à agressão um caráter despudorado e brutal que tem de encontrar, necessariamente, uma repercussão dolorosa em todas as consciências nas quais ainda brilhe algum vago lampejo de Fé.

Nos cursos em que se estuda moral, costumam os professores apresentar casos concretos em que são respeitados ou transgredidos os preceitos morais, a fim de que os alunos compreendam exatamente a natureza e o alcance da lei estudada. E, quanto mais incipiente o curso, tanto mais berrantes os exemplos. Só os alunos mais adiantados são expostos a situações complexas em que uma consciência, mesmo reta, pode com relativa facilidade enganar-se. Aos principiantes, os exemplos fornecidos são de cores necessariamente vivas, a fim de exigir deles um esforço intelectual menos intenso. Ora, a invasão das três pequeninas e simpáticas monarquias é um desses casos aberrantes que um professor daria a alguma turma de principiantes que se encontrasse no início do curso. Não hesito em afirmar que nem sequer é necessário ser católico para compreender o que de profundamente injusto a agressão nazista encerra. Basta ser homem, ter inteligência e coração, para repudiar com energia o gesto audacioso do governo hitlerista.

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Há um pretexto que certamente o governo nazista alegará. Através dos famosos comunicados do “Deustche Nachrischten Bureau”, fará ele constar que a França e a Inglaterra se preparavam para invadir os três pequenos Estados a fim de colher de modo imprevisto as tropas alemãs. E, se os arquivos oficiais de Haja, Bruxelas e Luxemburgo caírem em suas mãos, forjará a propaganda do Reich novos “livros brancos” em que procurará persuadir ao mundo de que branco é preto e preto é branco.

Entretanto, é simplesmente ridículo imaginar que um governo chefiado por um homem como o Sr. Chamberlain seria capaz de desferir uma investida preventiva contra a Bélgica e a Holanda. O Sr. Chamberlain é a mais prosaica, a mais fraca das figuras que tem aparecido no cenário político inglês. Desde que as tropas romanas invadiram o território inglês, até nossos dias, não tem a história daquele país memória de homem mais indeciso, mais tímido, mais vacilante do que esse verdadeiro semeador de fracassos que se chama Neville Chamberlain.

Os ingleses sorriam-se antigamente à vista da cena famosa do João-sem-terra jogando xadrez em seu palácio no momento exato em que os representantes da população descontentes batiam às suas portas a fim de lhe arrebatar grande parte do poder, limitando o poderio real. O que é a ingenuidade imprevidente de João-sem-terra em comparação com a cegueira do homem que melhor do que ninguém personifica o fracasso de Munich, o esmagamento da Polônia e a retirada da Noruega?

E é a este homem vacilante, tímido, a esse indivíduo tão bem simbolizado pelo guarda-chuva que usa, que se atribuiria o propósito sinistro de esmagar povos, trucidar nações, calcar aos pés leis morais a fim de atingir com golpe mais certeiro e mais profundo o III Reich. Ocupar a Holanda e a Bélgica para que? Para servirem de base mais segura para jogarem boletins sobre o território adversário? Quem sabe se o Sr. Chamberlain pensava em criar uma tática nova e, em lugar de jogar boletins, pensava atualmente em bombardear a Alemanha com tulipas holandesas? É a única explicação plausível que encontro para um possível intento franco-inglês no sentido de atacar a Holanda e a Bélgica. Todos conhecem as façanhas cênicas dos prestidigitadores que armam um revólver com balas e depois, dando um tiro, fazem sair do cano um passarinho. Quem sabe se dos canhões ingleses o Sr. Chamberlain faria sair, agora, não mais bombas como todos esperavam, mas canários belgas e tulipas sentimentais, colhidas às margens dos tranquilos canais neerlandeses?

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Uma consideração final não pode deixar de ser feita por nós. É ela referente à Guiana Holandesa. Já temos tratado reiteradamente do assunto, em nosso jornal. A Guiana Holandesa constitui, de per si, uma violação da doutrina de Monroe, pois que representa um trecho do solo americano entregue ao domínio da potência não americana. Entretanto, as próprias circunstâncias da Holanda não nos fariam recear, de nenhum modo, que ela viesse a se tornar um fator de perturbação na vida continental. Pelo contrário, se essa colônia cair em mão nazistas, o que não se poderá recear?

Todos os brasileiros devem acompanhar o assunto com interesse, e com entusiasmo patriótico, pois que provavelmente nossas autoridades tratarão do caso. Se a Guiana se tornar alemã, a hora do pan-americanismo terá soado.

Ao encerrar este artigo, não quero deixar de fazer mais uma vez a distinção imprescindível entre nazistas e alemães. Evidentemente, os nazistas não deixam de ser alemães. Entretanto, o que o nazismo faz de mau deve-se atribuí-lo à ideologia e não ao povo alemão, que é apto para o bem, como todos os povos, que são filhos de Deus. Todas as nossas censuras aos desmandos do nazismo devem reverter sempre em atos de cordial fraternidade em Nosso Senhor Jesus Cristo para que os alemães católicos saibam reprovar energicamente tais horrores.


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