Plinio Corrêa de Oliveira
Fatos que gritam
Legionário, 25 de fevereiro de 1940, N. 389 |
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O “Figaro”, que é um dos mais importantes órgãos da imprensa francesa, divulgou recentemente algumas informações que extraiu de relatório apresentado pelo Episcopado polonês em 1939 sobre a situação em que se encontra a Igreja nas províncias da Polônia submetidas à dominação alemã. E o “Jornal Brasil” teve a boa ideia de as publicar no Rio. Pertencem à mencionada notícia do “Figaro” os fatos que a seguir transcreverei. Desde o primeiro momento da ocupação alemã, afirmam os bispos poloneses, o governo nazista teve em vista a destruição total do catolicismo na zona invadida. Em todos os lugares que penetraram, as tropas alemãs tentaram extinguir completamente o culto católico ou quanto menos reduzir sua prática no mínimo. Aprisionados à viva força em suas residências episcopais, os prelados não podiam manter contato com as demais autoridades religiosas, pelo que a resistência católica se sentia profundamente debilitada. Grande número de igrejas e de Seminários foi fechado. Com frequência muito significativa, os membros do clero eram encarcerados e escolhidos como reféns, sendo de notar que assim se submetia a grave perigo a existência do sacerdote, uma vez que para cada alemão morto, eram imediatamente executados dez poloneses. Também são numerosos os eclesiásticos recolhidos a campos de concentração, onde são obrigados a trabalhos forçados e submetidos aos piores vexames. A maior parte das igrejas foi fechada ou profanada. Repetem-se com assustadora frequência as profanações das imagens, igrejas e calvários que a piedade popular polonesa disseminou por todos os recantos do país. Os fatos de perseguição assumem, não raramente, um feitio brutal. Assim, um sacerdote da diocese de Posnan, ao voltar do cemitério lia piedosamente seu breviário pelo caminho, quando encontrou cerca de 200 homens arrastados à força para um lugar de desterro, na própria Polônia. Os nazistas que conduziram o triste grupo de exilados, se apoderaram também do sacerdote que foi forçado a seguir o mesmo caminho. Obrigado a permanecer 36 horas sem se alimentar, foi submetido a este deplorável estado de depauperamento a trabalhos forçados ajudando a construir uma ponte, pelo que se viu obrigado a permanecer dentro da água, em um rio cujo nível crescera consideravelmente devido à enchente. Ocupada a cidade de Varsóvia, foram detidos imediatamente 230 sacerdotes, em condições mais insalubres e desumanas. Em Bromberg, os membros do clero foram reunidos em uma praça central, obrigados a permanecer durante quatro horas com os braços erguidos. No fim, sete cadáveres jaziam no chão. Uma das vítimas tentara fugir pelo que foi cruelmente fuzilada. Outro sacerdote recebeu uma coronhada que lhe fraturou o maxilar. Depois, foram as vítimas recolhidas à prisão onde sofreram o mais atroz tratamento. Em Gdynia grupos de sacerdotes condenados à morte cavaram sua própria sepultura, ali sendo em seguida enterrados depois de fuzilados. Em Kaliz foi enforcado um sacerdote cujo corpo permaneceu suspenso durante dois dias. O seminário de filosofia de Gnieono se achava fechado, e o respectivo edifício serve de quartel às tropas nazistas. O comando nazista se instalou no Arcebispado, cujos bens foram roubados. Um busto do Papa Pio XI, muito popular na Polônia onde exercera as funções de representante diplomático da Santa Sé, foi quebrado. Na Poznanie, foram proibidos casamentos religiosos, os batizados etc. O Santo Viático só pode ser levado ao moribundo ocultamente. O monumento ao Sagrado Coração de Jesus foi destruído a dinamite. Tais fatos falam por si mesmo, e dispensam qualquer comentário. O “Legionário”, há vários anos, vem insistindo sobre a identidade do espírito existente entre o nazismo e o comunismo. Há cegos que não querem reconhecer esta dolorosa situação. Doe-lhes o amor próprio nacionalista ante a ideia de que as formas totalitárias de governo, cujo espírito o nazismo encara de modo perfeitamente nítido, possam não ser aquilo que seu pueril otimismo imaginara. Entretanto os fatos continuam a gritar. A relação de atrocidades que acima transcrevemos são perfeitamente típicas de movimentos comunistas, e retratam fielmente o que se passou na Rússia, no México, na Espanha, e nas províncias polacas atualmente submetidas ao jugo russo. Será possível que nem mesmo em presença da identidade de frutos venham certos espíritos reconhecer a identidade das árvores? A pergunta não é ociosa, e está longe de ter um interesse meramente especulativo. O totalitarismo “pseudo anticomunista” – o neologismo se impõe para caracterizar a farsa política inédita diante da qual nos encontramos – é um perigo que não interessa somente a Europa, mas o mundo inteiro. Vitorioso no Velho Mundo, terá ele o cetro da hegemonia mundial, e esse cetro se transformará em suas mãos em acoite para flagelar novamente (...) o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cumpre, pois, que os católicos estejam alertados, e, pela oração tanto quanto pela atenção vigilante, saibam conjurar o perigo que ameaça arrastar novamente às Catacumbas a Esposa do Salvador, que é a Igreja de Deus. |