Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 4 de fevereiro de 1940, N. 386, pag. 2 |
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Antigamente, quando alguém queria combater a Igreja, ia dizendo logo que era livre-pensador, filho das luzes do século, amante do progresso e da civilização, e, depois, despejava todo o anticlericalismo em que se afogava. Hoje já não é assim. Vem o sujeito de mansinho, e murmura docemente: “Eu sou católico. Mas...” E, após o “mas”, vem uma série de heresias cabeludas que o tal julga com direito de dizer porque afirmou ser católico... É o caso que aconteceu com o correspondente carioca do Correio Paulistano, quando, na edição de 30 de janeiro último, publicou esta sua mirífica descoberta: Carnaval é religião. Ele, o correspondente, é muito católico, que ninguém ponha em dúvida. Mas não pode concordar com essa história de se promoverem retiros fechados exatamente durante os três dias de carnaval. Porque, afinal de contas, o carnaval é o carnaval, e, afirma o correspondente, tal prática parece uma condenação dos folguedos do alegre tríduo... Ora, mais uma vez se descobriu a pólvora. A verdade é que os festejos carnavalescos são de caráter nitidamente pagão, encerram muitas coisas contrárias aos Mandamentos, e o mais, que não esteja em aberto conflito com a Lei de Deus, são, pelo menos, tremendas ocasiões de pecado. Portanto, um bom católico está na mais estrita obrigação de, não só (não) participar daqueles festejos, como de os detestar cordialmente. O correspondente afirma que o carnaval figura nos calendários católicos da mais remota antiguidade, e isto quereria dizer que a Igreja, reconhecendo o pesado ônus de uma vida inteiramente subordinada aos ditames da moral cristã, permitiria a licença dos costumes durante os três dias, que seriam como uma válvula, após os quais a liturgia da quarta-feira de cinzas concluiria a conciliação com o Céu. Isto é inteiramente falso. É verdade que os três dias de carnaval figuram em todos os calendários católicos, mas com outra significação muito diversa. Carnaval vem de “carne vale”, que quer dizer literalmente “adeus à carne”. Como se sabe, outrora era prescrita a abstinência de carne durante toda a quaresma. Assim, aqueles três dias eram os últimos em que se podia fazer uso deste alimento, e, por isso, eram uma despedida. A quarta-feira de cinzas, logo em seguida, tem por papel lembrar e preparar os fiéis para o tempo de penitência que então começa. O piedoso correspondente do Correio não pensa assim. Irrita-se com os retiros fechados. Mas por que? No fundo é porque o movimento dos retiros tende a abafar o carnaval pagão. Isto desgosta o devoto correspondente, que se diz, no entanto, católico. Nós lhe diremos que, infelizmente, não o é, e ainda está muito longe de o ser. |