Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A mística do poder...

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de janeiro de 1940, N. 385, pag. 2

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Os próceres da Revolução da Anta e outros movimentos literários tais como o verde-amarelismo a Semana de Arte Moderna e demais velharias modernistas não podem deixar de dar o seu apoio à novel “Igreja Cristã Científica do Brasil”, cujo extrato de estatutos foi publicado no Diário Oficial. Segundo daí se pode deduzir, trata-se de uma agremiação político-espírita, com leves tinturas de cristianismo. O eixo da história está no seguinte item: “H) Ela (a igreja cristã, etc., etc.) funda, no Brasil, ou na América, a Mística do Poder, que confere (sic) a Inspiração Divina a todo o Chefe Supremo do Governo do Brasil, como poder constituído, assim fazendo que a lei seja respeitada como emanação da Vontade Divina, através do Chefe Legal da Nação.”

Alguém poderia pensar que houve aí infiltrações hegelianas, estrangeiras, portanto, e que nada tem a ver com a realidade nacional. Isso, entretanto, não é mais do que uma apreciação superficial do fenômeno. A Mística do Poder, a bem dizer, não precisa de ser fundada pela nova instituição religiosa, por isso que já existe há muito tempo entre nós. Houve, mesmo, um chefe de governo que, em saudação oficial, foi qualificado de sublime e divino. Outros chefes políticos de particular prestígio eram alcunhados de morubixabas. Entretanto, a “igreja cristã etc., etc.” tem um mérito inegável: aquelas alcunhas eram simbólicas, não queriam designar a realidade tal qual, mas algo de próximo a ela; a nova “igreja” transforma o símbolo em realidade viva. Assim muitas ideias, vagas, outrora, agora tomam corpo. Por exemplo, acontecia dizer-se de certo indivíduo que, para ele, “governo melhor do que este, só mesmo o que há de vir”; e muita gente particularmente invejosa dava a essa expressão um sentido pejorativo. Isso agora não será possível. A frase torna-se irrepreensivelmente verdadeira se o Chefe Legal goza de inspiração divina, só será substituído quando a divindade (que não é o Deus uno em três pessoas) achar um outro instrumento melhor de suas deliberações.

Há, entretanto, no extrato dos estudos, uma insinuação que julgamos perigosa. Lá se diz que a nova religião foi definitivamente consolidada em fins de 1937, como que querendo relacioná-la com o estabelecimento do Estado Novo. Ora, isto é um abuso sem conta, quanto mais que a tal religião promete as chaves da felicidade, da beleza e da riqueza, em seu item ”e”. Ora, muita gente poderá pensar que se trata de um modo poético de prometer cargos públicos no que se cifra todo o ideal de bem-aventurança de muito cidadão.


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