Plinio Corrêa de Oliveira

 

Uma oportuníssima Pastoral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de janeiro de 1940, N. 384

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O Ex.mo Sr. D. Francisco de Aquino Corrêa, Arcebispo de Cuiabá, teve a feliz idéia de celebrar seu Jubileu Episcopal com a publicação de uma Carta Pastoral referente à imprensa católica, que constitui, se não me engano, documento único sobre o assunto na literatura eclesiástica nacional.

Pertencente à Congregação fundada pelo grande São João Bosco, não podia S. Exa. Rev.ma encontrar um modo mais salesiano de comemorar aquela augusta data do que lançar, com sua autoridade de Arcebispo e com o brilho de suas palavras de literato, algumas frases de incitamento aos que se dedicam ao jornalismo. Por tudo isto, é bem de se ver o interesse que em mim suscitou aquele notável documento pastoral: reservei-me a tarefa de o comentar pessoalmente, e, para tanto, quis cumprir o grato dever de o ler com a necessária atenção.

Entretanto, esse mesmo interesse foi a causa do lamentável atraso com que sai este artigo. Na vida contemporânea, o homem se escraviza cada vez mais ao corre-corre dos afazeres inadiáveis, e o católico, se bem que reaja contra este estado de coisas, não pode deixar de, até certo ponto, ser arrastado por ele a uma premência de condições que lhe impõe por vezes a obrigação de sacrificar tarefas importantes e agradáveis a deveres inadiáveis. E por isto sai com atraso a palavra de aplauso filial e respeitoso do “Legionário” à formosa pastoral do ilustre Prelado.

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O tema escolhido por S. Exa. Rev.ma foi fornecido pelas palavras que lhe confiou o Santo Padre Pio XI, endereçadas aos Jornalistas Católicos do Brasil.

Santo Agostinho escrevera certa vez: “dilatentur spatia caritatis”. Pio XI, adaptando às necessidades do Brasil as palavras do grande Doutor, deu aos Jornalistas Católicos a divisa: “dilatentur spatia veritatis”, sejam dilatados os espaços em que reina a verdade.

Como bem mostra o Ex.mo e Reverendíssimo Senhor D. Aquino Corrêa, realmente a Verdade é o centro da missão do jornalismo. Mas esta missão de difundir a Verdade não pode ser feita sem discernimento.

Não basta dizer a Verdade. É preciso saber quais as verdades que, com maior freqüência, devemos afirmar e demonstrar, e, além disto, saber quais as verdades que devemos calar.

Indiretamente, a Carta Pastoral de S. Exa. Rev.ma é uma verdadeira condenação da imprensa chamada neutra, daquela à qual muitos católicos batem frequentes palmas, porque elas consentem em publicar, ao lado de notícias sobre o movimento espírita, protestante, cismáticos, etc. também informações relacionadas com o catolicismo! E isto com tal displicência, que não raras vezes nesse bazar de notícias religiosas figuram sobre o rótulo indiscriminado de “Religiões”, em que se equiparam todas elas umas às outras. Ou nem sequer se tem o cuidado suficiente para separar por meio de subtítulos adequados o noticiário católico do protestante.

Examinaremos detidamente o assunto. Ver-se-á por aí o que o católico deve pensar da imprensa neutra.

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A primeira missão do jornalista é de dizer a Verdade. Ora, o que o jornal “neutro” afirma pelo próprio fato de sua “neutralidade” é que não há, em matéria de Religião, uma verdade objetiva, real, susceptível de demonstração irrefutável; ou ao menos que essa verdade é tão inacessível ao comum dos espíritos que o jornal não pode tomar posição pela Religião verdadeira contra as falsas. A neutralidade só pode significar isto. Porque se o jornal conhecesse oficialmente uma religião e não se pusesse ao serviço dela, o que estaria fazendo senão uma traição ao seu dever?

Ora, o jornal que afirma tais coisas fere flagrantemente pontos já definidos da doutrina católica. E, portanto, deixa de ser um servidor da Verdade, isto é, de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Parece impossível ser mais simples do que este, um raciocínio!

Mas há outro ponto importante no qual a neutralidade da imprensa a coloca em situação falsa. É preciso dizer as verdades, graduando o vigor, a insistência e o esmero com que elas são sustentadas, conforme sua importância.

Assim, um jornal qualquer deve dar sempre, à parte religiosa, quer doutrinária quer informativa, de suas edições, um papel central que corresponda à importância suprema e fundamental da religião na vida. Manter um noticiário religioso, ainda que bem cuidado e perfeitamente ortodoxo, sem lhe dar uma importância ímpar, implica em afirmar, de modo mais ou menos velado, que Religião é matéria secundária. É um princípio evidente do jornalismo, dar à matéria no jornal uma importância proporcional ao seu valor intrínseco. De onde se conclui que, para o jornal, o que não é publicado com relevo não tem importância...

* * *

Finalmente, nem todas as verdades devem ser ditas. O sensacionalismo das seções criminais, por exemplo, pode se não distanciar, mesmo no mais ínfimo dos detalhes, da verdade objetiva. Entretanto, nem por isto deixará ele de infligir grave dano à população. Ora tal dano só se compreende em uma imprensa “neutra” ou nitidamente anticatólica. Porque uma imprensa católica nunca poderia cair em tal erro.

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O que quererá o “Legionário” com este comentário dos três princípios fundamentais, tão oportunamente lembrados pelo insigne Arcebispo de Cuiabá? Abrir fogo contra todos os jornais neutros, e, implicitamente, contra os que trabalham em tais jornais? Evidentemente, não. A imprensa neutra é um mal. Mas esse mal é susceptível de ser minorado por uma atitude inteligentemente hábil, corajosa dos católicos. Se a imprensa neutra é um mal, a imprensa neutra com uma boa seção religiosa é um mal muito menor. Ora quem, sob pena de renunciar ao zelo ou à inteligência, pode deixar de preferir, em matéria tão grave, o mal menor ao mal maior, e de promover com todas as suas forças à minoração do mal?

Entretanto, maior ou menor mal, ele não deixa por isto de ser um mal. E - é essa a noção que deve ficar - este mal só pode encontrar uma solução eficaz e completa no desenvolvimento da imprensa católica.


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