Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Equívoco?

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de janeiro de 1940, N. 384, pag. 2

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O Almanaque do “Eu Sei Tudo” para este ano inseriu um artigo sobre a eleição do Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, em que se atribuem à Igreja Católica atitudes e ideais menos ortodoxos. Assim, afirmou-se que o Catolicismo está em plena evolução, caminhando a largos passos para uma grande obra de sincretismo religioso, em que seriam abarcadas todas as religiões do universo. Desta forma, a religião deixaria de ser um divisor, mas, pelo contrário, um elo de fraternidade para todo o gênero humano.

Indo mais longe, o articulista pretendeu ver no Congresso Eucarístico de Argel, que foi levado a efeito logo no início do atual pontificado, um fato característico da nova mentalidade que estariam dominando no seio da Igreja Católica, mentalidade liberal e tolerante, que não seria compreendida há meio século. Isso porque S. Em. o Cardeal Verdier, que presidiu ao referido congresso, havia mantido relações de cordialidade com o grande mufti, chefe do islamismo em Argel, e com o rabino da mesma localidade. Ainda mais, S. Eminência, o grande mufti e o rabino teriam feito uma declaração conjunta, afirmando que, como existe um só Deus, e todos eles só almejavam bem servi-lo, a diferença de fórmulas e de ritos não constituía uma séria dificuldade em que se entendessem como irmãos.

Ora, a verdade que qualquer católico não teria dificuldade não só para se entender como irmão, mas para amar todo ser humano, porque todo homem foi criado por Deus, e, no interesse de cada homem em particular, Nosso Senhor Jesus Cristo derramou o seu Sangue até à última gota, do contrário, não se explicariam as missões. Isto, entretanto, só por esta razão, porque é falso afirmar que entre as religiões há, apenas, a diferença acidental das fórmulas e dos ritos. Tal coisa nunca teria sido dita pelo Cardeal Verdier, como de fato não o foi; porque tal afirmação é uma heresia, e um Cardeal da Santa Igreja não profere heresias.

Por outro lado, não se pode interpretar como uma transigência em matéria de princípios as amabilidades trocadas entre o Cardeal Verdier e os representantes dos dois grupos religiosos. Tendo sido procurado pelo grande mufti e pelo rabino, não se poderia compreender, em face das normas mais elementares da boa educação, que o Cardeal os despedisse com duas pedras na mão, ainda mais tendo-se em vista que a indelicadeza iria atingir as populações muçulmana e judia, que são a grande parte dos habitantes de Argel. É preciso considerar, além disso, que Argel está situada no norte de África, onde, em seus tempos primitivos, a Igreja floresceu animadoramente, mas de onde foi, infelizmente extirpada pela onda do islamismo, com os judeus por aliados, que usaram de toda a violência contra Ela. A reverência demonstrada pelos atuais representantes, em Argel, daqueles dois grupos religiosos tem quase o significado de uma retratação dos crimes outrora cometidos.

O articulista laborou um equívoco fundamental. A Igreja Católica tende, por sua própria natureza, a reunir em seu âmbito toda a humanidade, e é por isso que é Católica, isto é, universal. Mas Ela não se pode reunir com outros grupos religiosos porque, por isso mesmo que é Católica, Ela não é uma seita particular. Sendo Católica, Ela não possui apenas um aspecto da verdade, de maneira a poder articular-se com outros grupos, que possuiriam outros aspectos da mesma verdade. Pelo contrário, Ela é Senhora de toda a verdade, da verdade completa, integral, absoluta. Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja Católica foi colocada como um sinal de contradição, de separação de campos. Depois de sua fundação já não há simplesmente a humanidade, mas dois campos muito distintos: a Cristandade e a gentilidade.

Portanto, o ideal naturalista e rotariano de um humanitarismo fraternal é contrário ao âmago do pensamento da Igreja. A humanidade em si mesma é decaída e escrava do demônio. A Igreja, porém, quer fazer de toda essa humanidade uma Cristandade santa, filha de Deus e herdeira do Céu, pela graça do Senhor.


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