Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 7 de janeiro de 1940, N. 474, pag. 2 |
|
Realiza-se, atualmente, em São Paulo, um Congresso de Cultura Religiosa, promovido por um certo Instituto de Cultura Religiosa, e cujas reuniões são levadas a efeito num salão do Mackenzie College. Não fossem os nomes dos oradores, todos eles protestantes conhecidos em nosso meio, não se saberia qual a coloração religiosa do tal Congresso. Nas notícias de sua instalação não se alude ao protestantismo, e, muito provavelmente, no seu transcurso serão evitados ataques diretos ao Catolicismo. Esta tem sido a técnica seguida cuidadosamente por quanta heresia que procura proliferar entre nós: a infiltração manhosa, a confusão habilmente difundida e disfarçada. Principalmente nestes últimos tempos têm aparecido certas expressões maravilhosamente equívocas, que se prestam de um modo especial para jogo de prestidigitação com que se procura embair os ingênuos. Uma delas é o “espiritualismo” com a derivada “espiritista”. Nem se falem dos muitos “deístas” que andam por aí. Entretanto, onde o abuso atingiu o auge, foi com o nome entre todos sagrado de Cristão. Quando hoje, por exemplo, se diz que é necessário “recristianizar o Brasil”, não adianta falar-se com ênfase, porquanto não haverá quase ninguém que discorde. Os protestantes, os espíritas, os comunistas, “oves et boves et serpentes” e até mesmo (quem sabe?) o sr. V. Cy do “Estado de S. Paulo”, todos acharão que, em verdade, “é preciso recristianizar o Brasil”, cada um entendendo a frase ao seu modo. Nós, católicos, devemos, portanto, evitar escrupulosamente todas estas palavras e expressões, que contribuem para baralhar as verdadeiras noções das coisas. É verdade que o Cristianismo autêntico é o Catolicismo, sendo tudo o mais grosseiras contrafações. Mas quem fala simplesmente em Catolicismo, fala também, implícita e necessariamente, Cristianismo, do legítimo, do único verdadeiro. Não é possível um Catolicismo que não seja Cristão. E, assim, afastam-se os equívocos, o que é, sem dúvida, uma vantagem inestimável. Alguém poderia achar que, assim como os inimigos da Igreja usam da técnica despistatória para as suas conquistas, nós também deveríamos lançar mão dela, em proveito da boa causa. Ora, isto seria colocar a Igreja em mesmo pé de igualdade com as heresias. A verdade é uma só, os erros são múltiplos e convergentes, por isso que o erro não é algo de positivo, mas uma adulteração e como amputação da verdade. Portanto, os processos de divulgação da verdade têm de ser radicalmente diversos dos de divulgação dos erros. Quem propaga o erro não faz senão demolir, por qualquer forma, a verdade; quem, pelo contrário, procura disseminar a verdade, trabalha no sentido da afirmação. Nós, filhos da luz, só temos interesse em que a luz se difunda e em que os campos se delimitem claramente. Por isso, a nossa linguagem deve ser “sim-sim, não-não”, porque os meios termos, a penumbra, a confusão, vêm do demônio, e só nos podem ser prejudiciais. |