Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

O suicídio do capitão Langsdorff

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de dezembro de 1939, N. 380, pag. 2

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O caso do “Admiral Graf von Spee” evidentemente não ficou bem claro. Se era para sacrificar-se o navio, por que não se prosseguiu na batalha contra os navios ingleses? E se o capitão Langsdorff deveria perecer com o navio, por que não afundou espetacularmente na ponte de comando? Principalmente para esta última questão não se deu resposta satisfatória. A alegação de que o comandante queria, antes de morrer, deixar em ordem a situação de seus marinheiros, dificilmente pode ser aceita. Afinal de contas, estes marinheiros não iam desembarcar num país bárbaro, mas, pelo contrário, numa nação civilizada, em que até existe, por sinal, um embaixador alemão, que poderia fazer por eles tanto ou mais do que o seu capitão.

Assim, não é inteiramente descabida a versão que tem começado a circular sobre os acontecimentos, segundo a qual o suicídio teria sido ordenado pelo próprio governo alemão, quer em virtude de desinteligências havidas com o capitão, quer por causa do descontentamento que o seu modo de proceder causara no alto comando. De qualquer forma, os meios oficiais nazistas aprovaram irrestritamente o suicídio, de modo que este ato certamente teria sido recomendado se, conforme parece, não foi espontâneo. De fato assim se exprimiu o comunicado da embaixada do Reich em Buenos Aires, segundo os despachos telegráficos: “O comandante do ‘Admiral Graf von Spee’, capitão Langsdorff, sacrificou a vida pela pátria, eliminando-se voluntariamente... Terminada a sua missão ontem à noite, cumpriu o seu destino de bravo oficial da marinha escrevendo mais uma página de glória, etc. etc.” A nota do alto comando naval alemão não foi menos expressiva: “O comandante do ‘Admiral Graf von Spee’, capitão Hans Langsdorff, não desejou viver após o afundamento de seu navio. Fiel a uma honrada tradição, e aos princípios observados pelo corpo de oficiais a que pertenceu durante três décadas, tomou esta decisão”.

Mais uma vez, portanto, se verifica uma profunda divergência entre o nazismo e a Igreja. A Doutrina Católica condena expressamente, e sem nenhuma exceção, o suicídio. Segundo o Catolicismo não há nenhuma glória, nenhuma honra, nenhuma beleza, em alguém tirar a própria vida, não havendo nada que justifique semelhante ato, que não passa de um assassínio vulgar. Os suicidas, morrendo em consequência de uma grave ofensa à Lei de Deus, são privados de sepultura eclesiástica, bem como de exéquias públicas. Entretanto, para o nazismo, o suicídio pode ser, em certas circunstâncias, um ponto de honra e sabe-se muito bem o que é a “honra nazista”, peça importante de um estado totalitário, coisa obrigatória, oficial e, certamente, também burocrática.

O pior é que não faltarão os românticos que acharão maravilhosa essa história do capitão não sobreviver ao navio, isto é, de um homem são e forte meter uma bala no ouvido porque um montão de ferros-velhos foi ao fundo do mar...


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