Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Panacéias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de novembro de 1939, N. 375, pag. 2

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A história é sempre assim. Aparecem por aí uns sujeitos iluminados, a apregoar as vantagens mirabolantes de um certo processo peregrino de curar, de fazer, de acontecer, mas que, apesar de tudo isso, não consegue a acolhida da “ciência oficial”, por razões que a gente nunca chega a bem compreender. No fim, acaba sempre por acontecer o que é próprio às vantagens extremamente vantajosas: a despeito de todas as maravilhas, não se divulgam além de um círculo restrito de iniciados, enquanto o grande público continua a viver a sua vida pacatamente, seguindo os cânones da famigerada “ciência oficial”. E, quando a gente afirma estas coisas, os profetas se arrepelam, clamam contra o obscurantismo em que os povos andam mergulhados, deblateram contra a tirania dos dogmas, o que não impede que a Terra continue a ser uma esfera achatada nos polos, e dilatada no equador.

É o caso da chamada medicina espírita. Ainda há pouco tempo, um jornal carioca publicou artigo vistoso, destes que vêm assinados pelo autor no alto da página, em que se defendia a benemerência dos médiuns, que dão receitas gratuitas. E lá vinha o exemplo concreto, o milagre autêntico, o “caso” extraordinário, que esta gente traz sempre na ponta da língua com todas as minúcias e referências às pessoas com que aconteceram, quase sempre parentes, amigos, fregueses. E assim, no gênero, uma porção de fatos, todos eles provados, de tal forma que a gente se admira da invencível burrice da humanidade a se deixar morrer na mão dos esculápios incompetentes e hipócritas, em vez de se convencer da ineficiência perfeita do espiritismo curativo, de modo que a “desencarnação” se tornaria a lembrança longínqua de uma idade da pedra.

Realmente, a habilidade dos médiuns-médicos é espantosa: basta que se lhes mande nome, idade e endereço, para receber de volta o diagnóstico e a receita dos remédios, que infalivelmente hão de curar. Entretanto, convenhamos, o método ainda pode ser aperfeiçoado. De fato, suponhamos que dois indivíduos chamados José da Silva, ambos com 35 anos de idade, venham a residir na Rua Quintino Bocaiuva, 42, sendo que um é dispéptico e o outro é calvo. Não haveria o sério perigo de uma confusão por parte do médium, que faria o dispéptico beber loção para cabelos? Ora, o inconveniente parece-nos fácil de obviar. Só o médium tem a capacidade de adivinhar nas vísceras de um sujeito, que se acha a léguas de distância, o mal que lhes punge e de, prontamente, descobrir-lhe o remédio, por que a exigência formalista e acidental do nome, idade e endereço? Adivinhe-se isso também, evitando-se possíveis e perigosos erros na diagnose.

Mas falemos sério. Podem, mesmo, acontecer fatos extraordinários em matéria de curas, mas são fatos de origem sobrenatural e que, por sua própria índole, não podem ser sistematizados num método de cura habitual. Há, também, neste sentido, intervenções demoníacas, que produzem uma aparência de cura, e cuja provocação é inteiramente condenável. O que, porém, não se pode compreender é que um jornal faça propaganda da “medicina” espírita, o que só poderá redundar em benefício para os macumbeiros, praga daninha que a polícia persegue.


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