Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 12 de novembro de 1939, N. 374, pag. 2 |
|
Sim, velho e, mais do que isso, rançoso. Mas a verdade é que a campanha pró divórcio continua. Ainda na semana passada o correspondente carioca da “Gazeta” mandou para o seu jornal um comentário torcicoloso, que principia em Anatole France e termina no muito honrado sr. Borges de Medeiros, com escala pela estafadíssima atriz cinematográfica Constance Talmadge. É verdade que o longevo político do Sul não foi mencionado, porém lhe citaram frase muito sua. O que, entretanto, não tem importância, posto que um homem vale pelas suas ideias, máxime em se tratando daquele mui célebre pensamento: “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. Mas voltando ao que serve, nesta correspondência do Rio assinalou-se a dificuldade que tem as jovens da classe média carioca de encontrarem marido. Ao mesmo tempo – circunstância curiosa! – a sobredita atriz conseguiu casar-se pela quarta vez. E o articulista detém-se embaraçado diante de tamanha diferença, de tal forma que a gente tem vontade de perguntar candidamente: por que será, hein? Questão difícil, que o artigo não responde. Apenas se alude, mais adiante, a certos preconceitos de nossa sociedade que fazem com que os homens procurem o celibato, em detrimento das aspirações das mocinhas casadoiras. Ora, é preciso liquidar com esta história de preconceitos. Na verdade, o único realmente pernicioso é aquele preconceito, pai e mãe de todos os outros, que é o de não os ter nenhum. Neste sentido chegou-se a tais extremos que uma pessoa “despida de preconceitos” tornou-se sinônimo de pessoa absolutamente sem vergonha. Tanto isto é verdade que os impenitentes celibatários cariocas, despidos do “preconceito” do casamento indissolúvel, não desejam casar-se porque só quereriam caminhar para o matrimonio com a ideia de um divórcio possível. Ora, se se trata de acabar com preconceitos, não vemos porque se há de parar no meio do caminho. O correspondente do Rio achou que era demais uma pessoa poder casar-se quatro vezes, embora uma só vez fosse pouco, segundo o adágio do mar e da terra. Ora, isto é um preconceito injustificado e tolo. Se a questão é poder reajustar a situação matrimonial até “dar certo”, não há que limitar o número das experiências. O melhor mesmo, neste sentido, seria suprimir, de uma vez, com o casamento, cada casal arranjando-se ao modo por que se pratica nas baixas camadas da população, não tendo outra regra que o arbitro das partes. Imoralidade? Preconceito, puro preconceito. Há mesmo os que pensam que o casamento a vínculo é imoral porque gera uniões ilícitas. Se houvesse divórcio, estas uniões ilícitas poder-se-iam tornar legítimas. Quer dizer que o critério da moralidade tornou-se o registro oficial, feito por um tabelião. Senhor, poderá haver preconceito mais idiota? Uma união será moral ou imoral segundo constar ou não de algumas palavras garatujadas num pedaço de papel do Estado! Se o casamento indissolúvel era um preconceito social, o divórcio será nada menos que um preconceito burocrático. Por aí se vê que só há duas atitudes coerentes em face do casamento: a sua negação ou a sua indissolubilidade. O divórcio é hipocrisia de quem não tem coragem de encarar de frente o que pensa na realidade. |