Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Ainda Pirapora?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 29 de outubro de 1939, N. 372, pag. 2

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A propósito das cavalhadas que se realizaram na semana transata, certo jornal desta capital achou bom de fazer alguns comentários, em que se tornou a discutir a questão dos festejos profanos que costumavam acompanhar as comemorações religiosas.

Neste sentido, o articulista lamenta a supressão das “pitorescas, movimentadas e ingênuas expansões populares que outrora acompanhavam as festas religiosas” achando que as tais expansões em nada atingiam o respeito que se deve à Religião, pois, pelo contrário, dEla recebiam “toda influência benéfica”.

Ao que parece, estamos diante de um último e longínquo protesto contra a moralização das tradicionais festividades ao Senhor Bom Jesus de Pirapora, contra a qual certos folcloristas se bateram, pelas colunas daquele mesmo vespertino. E isto constitui índice precioso para a apreciação de certos estados psicológicos.

De fato, aquilatar de ingênuo e pitoresco o que era grosseiro e impuro, é sinal de flagrante alteração do senso moral e estético, espécie de daltonismo espiritual, em que se pode notar a influência da romântica doutrina do “bom selvagem”. Com a grave diferença de que esta doutrina foi formulada com deficiente conhecimento da matéria, ao passo que os nossos folcloristas pretendem ver nas inomináveis e sórdidas orgias, a que se entregava a escória da sociedade, uma profanação revoltante aos atos religiosos, a expressão natural e ingênua da alma popular.

E não é só. No mesmo comentário, procurou-se insinuar que a desbravação dos festejos religiosos da erva daninha, que ameaçava sufocá-los, era de cunho saxônico e protestante. Agradecemos e dispensamos estes pruridos ortodoxos. Mas é preciso fazer uma distinção essencial. É verdade que não é católico um certo desnudamento seco e convencional, que caracteriza o protestantismo. Onde quer que tenha havido um verdadeiro florescimento de vida católica, tem surgido também manifestações autênticas de alegria popular. Mas semelhantes manifestações são sempre marcadas pela elevação, pela pureza, pela delicadeza e graça, como as festas tirolesas, por exemplo.

Participantes de uma festa no sul do Tirol (Wikipedia)

Pode-se comparar com isto o samba e quejandos, brutais e pesados, exatamente porque não brotaram da árvore da Igreja, mas vieram dos fetichismos africanos? Estes africanismos nem ao menos representam a cultura nacional; engastaram-se parasitariamente à Religião e à sociedade, contribuindo para estabelecer aquela mentalidade religiosa, típica do 2º. Império, festeira, maçonizada e naturalista, e sobre a qual o grande Dom Vital poderá prestar os mais valiosos esclarecimentos.

Depois do trabalho de limpeza realizado por Jackson de Figueiredo, cremos que já não é oportuno pretender novamente semear o confusionismo.


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