Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 22 de outubro de 1939, N. 371, pag. 2 |
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De vez em quando aparecem certas campanhas de aspecto inteiramente original. É como se, por acaso, várias pessoas tivessem, em dado momento, a mesma ideia, e se pusessem a propagá-la pela imprensa. O público profano acredita na “coincidência” das opiniões, e acaba pensando que surgiu, mesmo, um estado de coisas novo, que exige soluções novas. O mais interessante é que estas campanhas, formadas “casualmente”, nunca tiveram por objeto assuntos como, por exemplo, a criação de canários belgas, mas a defesa do divórcio e, ultimamente, a cremação de cadáveres. Poder-se-ia dizer que o fenômeno tem fácil explicação. Tudo não passaria da repercussão natural de uma ideia luminosa, lançada em boa hora por um espírito privilegiado. Ora, se não nos falha a memória, certa vez o atual Arcebispo, então Bispo Auxiliar, foi visitar a Associação Paulista de imprensa, onde - seja dito de passagem - foi recebido com todas as honras. S. Excia. aproveitando a oportunidade, sugeriu que toda a imprensa paulistana fizesse uma insistente campanha em prol da retificação do Tietê, melhoramento inapreciável para as pobres populações ribeirinhas, expostas, periodicamente, ao flagelo das inundações. Ora, no momento, a administração municipal não cogitava desta iniciativa; poderia haver, portanto, ideia de maior alcance? Entretanto, a campanha não se fez. Mas voltemos ao assunto. O “Estado de S. Paulo” e as “Folhas” alistaram-se entre os partidários da cremação, e já se procura, mesmo, fazer crer que a Igreja não seria assim tão contrária, como se tem afirmado. Ora, só há um caso em que a Igreja permite a cremação de cadáveres: é na iminência de epidemias. Além disso, a Igreja tolera o trabalho do operário, em certos trabalhos da confecção do forno crematório. E é só. Será que São Paulo está sob a ameaça de uma epidemia, se se continuar na atual prática de inumação? Se não for por isso, só por puro espírito de imitação desejar-se-á implantar entre nós um costume ímpio, instituído em nossa civilização pela maçonaria, que pretendia, com isso, fazer esquecer o dogma da ressurreição. E é precisamente em nosso século, em que a “humanização” é o pretexto pelo qual se procuram autorizar todas as vergonhas, é precisamente agora que, mais do que nunca, se perdeu o respeito devido à pessoa humana, a ponto de desejarem destruir-lhe o corpo, mal cessada a última palpitação da vida. E como quererão evitar a barbárie totalitária? |