Plinio Corrêa de Oliveira

 

FREUD – Sua doutrina, seus erros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 1º. de outubro de 1939, N. 368, pag. 8

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O recente falecimento de Freud (1856 - 23-9-1939) na Inglaterra veio mais uma vez projetar luz sobre sua personalidade e sobre sua doutrina. Aureolado com a fama de sábio, sua doutrina é pouco conhecida, assim como pouco conhecidos são os pontos em que ela é condenável à luz da razão.

Uma rápida síntese do que seja a psicanálise e de seus erros dará o verdadeiro saber de Freud.

A doutrina do psicanalista não é toda despida de verdade, e nem é ele original nesses princípios certos. Porém, em aplicações exageradas e abstrações perigosas, e mais é original, cai frequentemente em erros e contradições.

Fundamentalmente a doutrina de Freud baseia-se na existência do subconsciente e na absorção de toda a vida psíquica por ele. O primeiro fundamento certo, o segundo errôneo. Com efeito, a existência do subconsciente não é fato contestável. Porém, esse subconsciente, embora não deixando de influenciar a consciência, não esgota a vida psíquica.

No subconsciente, ou melhor no inconsciente, descobre Freud os instintos e os complexos – sistemas de tendências grupadas em determinada direção, em associações mais ou menos estreitas – que explicam todo o dinamismo da nossa atividade. Atos frustrados, atos inconscientes, sonhos demonstram a existência do subconsciente e constituem os elementos, ainda segundo Freud, de nossa energia psíquica.

Assim, a análise desses elementos, ainda segundo Freud, descobre os vários complexos e instintos que latejam no subconsciente. Entre eles avulta a “libido” ou instinto do prazer sexual que evolui em diversas fases superpostas.

Os instintos são impedidos no seu dinamismo de avultar na consciência, graças à “censura”, a função psicológica, fruto da educação, ambiente social, leis, religião, etc., que reprime, e recalca os instintos e os complexos, e os impede de uma evolução plena segundo suas tendências naturais.

A atuação contínua da censura criando os recalques vai formando um conjunto de sentimentos violentados, cujo fruto é a nevrose.

Para a terapêutica dessa doença nervosa o médico, como o era Freud, deve sondar a orientação dos instintos, educa-los e mesmo sublimá-los.

Aí, em largos traços, a doutrina de Sigismundo Freud. Legítima na insistência do papel do subconsciente na vida humana, demasiada quando pretende reduzir todo o psiquismo a um servo necessário dos instintos. Sobre sua parte inferior, sensitiva, comum aos animais, encerra a tendência racional a quem compete não jugular os instintos, mas canalizá-los de modo a servirem aos princípios superiores que regulam a atividade humana.

Demais a redução de toda a vida humana ao “libido” como ao seu primeiro e fundamental princípio representa visão simplista de uma realidade muito mais complexa.

A censura, de existência real, não é também formada pelos “preconceitos sociais” como “religião” e “moral”. É naturalmente outra ordem de ideias refutar essa pecha de “preconceito” que Freud outorga à religião. Existem a moral, a religião objetivamente, não fruto de preconceito, mas sim fruto da natureza do homem e da Revelação divina.

A terapêutica psicanalítica, expurgada de seus exageros, não é original, pois a própria Igreja a usa quando preconiza o exame de consciência e a Confissão para os fiéis.

É, em última análise, o próprio método introspectivo. Se é certo, contudo, o método não é o remédio.

A solução da vida psíquica não se encontra na identificação dos instintos com a norma de conduta, mas sim em educar esses instintos de acordo com um critério racional.

Finalmente, se é certo o valor para o estudo do subconsciente, não é certo a redenção do simbolismo dos sonhos ao instinto sexual.

Esse esforço sexualizante de Freud é talvez o caráter mais profundo de sua doutrina. Ela aparece mais como uma concepção mórbida que como fruto de um cérebro de sábio e de pensador.


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