Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Neutralidade

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de setembro de 1939, N. 367, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Nos tempos de grande agitação coletiva, como os que atravessa agora o mundo, torna-se necessário, antes de tudo, evitar os mal entendidos, os equívocos, as palavras dúbias. Mesmo porque, dado o nervosismo reinante, tudo é pretexto para interpretações apressadas e conclusões, senão inteiramente falsas, pelo menos exageradas e comprometedoras.

Como se sabe, o Brasil foi das primeiras nações a declararem sua neutralidade, em face do conflito que ora ensanguenta a Europa. Para tornar efetiva esta neutralidade, o Governo tem baixado decretos, regulamentos, instruções, entre as quais se conta o aviso de sua Excia. o Sr. Ministro da Guerra, de quinta-feira passada, em que se dão normas à conduta dos militares.

Neste importante documento, o Sr. Ministro acautela as forças armadas contra as possíveis campanhas para aliciar a opinião popular contra alguma das facções em luta, “ou orientá-la em campo contrário às conveniências do regime que adotamos”. É, talvez, possível que haja pessoas apressadas que interpretem esta expressão “conveniências do regime” como referindo-se ao regime político, que vigora no Brasil. Ora, semelhante interpretação será evidentemente absurda. A expressão acima se refere insofismavelmente ao regime de neutralidade, adotado pelo nosso país. Esta conclusão é de uma clareza meridiana, pois que, por qualquer outra, o Brasil já não seria neutro e, assim, estaria burlando o objetivo mesmo do aviso ministerial.

De fato, se a guerra na Europa começou com as características de uma reivindicação nacional, esta feição mudou, porém, consideravelmente com os acontecimentos posteriores. Atualmente, o conflito tem todo o aspecto de uma luta entre ideologias políticas diversas. Portanto, nesta altura a que chegamos, qualquer consideração concernente a regimes políticos implica, automaticamente, numa escolha em que se toma partido.

Esta folha, por tradição e por princípio, não tem preferências nacionais, pois tem somente em vista a defesa dos interesses católicos. Ora, segundo o Catolicismo, todas as nações são igualmente chamadas para a glória do Reino de Deus. Neste sentido, que é afinal de contas o único legítimo, sendo tudo o mais liberalismo, somos rigorosamente neutros, e ninguém mais do que nós. Assim, julgamo-nos plenamente autorizados para recomendar aos nossos leitores uma grande prudência e maior lucidez, para que, no torvelinho da situação atual, saibam discernir com clareza os interesses da Igreja, que é a única de que podem provir a paz e a tranquilidade que a humanidade tanto deseja, estando, mais do que nunca, afastada deste ideal.


Bookmark and Share