Especial da legação da Polônia para o “Legionário”
As tradições religiosas na Polônia
Legionário, 24 de setembro de 1939, N. 367, pag. 8 |
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A embaixada da Polônia agradece ao LEGIONÁRIO Da legação da Polônia, no Rio de Janeiro, recebemos um expressivo ofício de agradecimento pela atitude assumida por esta folha contra a invasão totalitária da extrema direita e da extrema esquerda.
Abaixo, vista do Mosteiro de Jasna Gora onde se venera a imagem da Virgem de Czestochowa
Quando o Papa Pio IX designou a Polônia “semper fidelis”, traduziu nessa sentença a substância histórica do grande país, onde o fulgor do catolicismo se confunde com a própria história. Nesse momento em que as atenções do mundo se acham voltadas para a tragédia que ensanguenta a Europa, nada mais oportuno do que rememorar que a Polônia, além das características espirituais que lhe são próprias, tem sua Constituição política votada em nome de Deus e, consequentemente, o Estado unido à Igreja. A Igreja e suas leis tem assim, no seio do nobre povo, um papel e uma significação da maior relevância nacional. Desde os tempos mais remotos couraça contra a invasão pagã na Europa, a Polônia, que adotou o cristianismo desde o ano 966, sempre manifestou seu apego ao catolicismo, através as mais eloquentes formas. Com propriedade ela foi denominada “muralha da Cristandade”, e se por outras formas não houvesse justificado o honroso epíteto, bastaria para comprová-lo o fato histórico da defesa de Viena, empreendida pelo rei da Polônia, João III Sobieski. A profunda fé das tropas polonesas chamadas a Viena pelo imperador da Áustria, Maximiliano, foi expressa nas palavras de Sobieski: “cheguei, vi e Deus venceu”. A piedade do glorioso rei se manifestou no fato de que, antes da batalha, acompanhado de seus guerreiros, orou ardorosamente, genuflexo ante a imagem de Nossa Senhora Milagrosa. Confirmou destarte Sobieski a tradição polonesa, que consistia em só iniciar as batalhas após preces invocando o apoio de Deus e sua benção.
Acima, grande pintura em uma das paredes da Capela polonesa, no Santuário de Nossa Senhora de Loreto (Itália). Triunfo da Cristandade sobre o invasor muçulmano durante a batalha de Viena (12 de setembro de 1683), a qual foi conduzida pelo Rei polonês João Sobieski. Deus sempre ouviu a Polônia, que, durante um milênio de existência, jamais tomou das armas para empreender guerras de opressão mas, pelo contrário, sempre fê-lo em prol de justas causas. A índole substancialmente religiosa do povo polonês não se manifestou, unicamente, nos momento de duras provas para a vida nacional; não se exteriorizou apenas nas ocasiões de guerra, porém foi sempre exuberante durante a paz. Seguro testemunho temo-lo na pluralidade de conventos e igrejas, que tanto contribuíram à elasticidade da vida católica na Polônia. São esses monumentos pacíficos, com sua finalidade humana, os mesmos que hoje estão à mercê da investida do neo-paganismo nazista, que num gesto “heróico” os destrói com bombardeios inclementes, que não chegam a arrefecer a fé, incrustada desde séculos na essência da Nação Polonesa. Nenhum testemunho mais concludente do ardor dos poloneses para com a religião do que as palavras do Santo Padre Pio IX aos peregrinos da Polônia que lhe pediram relíquias. – “Ao invés de vo-las dar, poderei recebe-los. Trazei-me um pouco da vossa terra, embebida do sangue dos mártires: aí estão as mais sagradas entre as vossas relíquias”. Frisantes exemplos, exemplos edificantes são a vida de Santo Estanislau, Bispo; Santo Estanislau Kostka, São Jacinto Odrowaz, e André Bobola, e finalmente Santa Kinga – rainha da Polônia. Os mais vivos sentimentos religiosos dos poloneses são manifestos nas peregrinações seculares aos lugares santos e entre esses Czestochowa é o de maior expressão. A efígie de Nossa Senhora pintada, conforme a legenda, em taboa de Chipre pelo Apóstolo São Lucas, irradia, no interior e no exterior da Polônia, todo seu fulgor miraculoso. No passado serviu de estímulo aos patriotas nas horas das tempestades nacionais e hoje é ainda sob a invocação piedosa de Nossa Senhora que as armas polonesas se levantam na defesa do solo pátrio, invadido e depredado pela barbárie de um povo que se arroga defensor da cultura. Não menos venerado, na Polônia, é o quadro de Nossa Senhora de Ostra Brama, cuja remota história data do século XVII. Nele a Virgem é apresentada com as mãos cruzadas sobre o peito, expressando os mais sublimes sentimentos, impressos na face pelo autor desconhecido dessa maravilha da arte religiosa na Polônia. Cracóvia, Gniezno, Wilno, Poznan, toda a Polônia, enfim, através de suas igrejas, seus mosteiros, seus monumentos, atestam os lances mais memoráveis da história, a inquebrantável fé dos poloneses e nelas se conservam seus santos e mártires. A atual geração polonesa, com especialidade a juventude, guarda no mais íntimo recesso do espírito as mais belas tradições e de todas a maior é aquela de fundir no símbolo, Deus e Pátria, a força inquebrantável que as anima na defesa do solo, e da expressão moral que ela representa para cada polonês, que tem nesse momento em cada uma das mãos, uma espada, que há de galvanizar, com ajuda do Céu, todo o patrimônio que conquistaram em gestos de nobreza, que lhes tem valido a admiração do mundo. Com Deus e pela Pátria, a Polônia vencerá. |