Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

 

Adultério e cebolas

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de setembro de 1939, N. 365, pag. 2

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Tudo já se poderia ter posto em dúvida, menos que a Academia Brasileira (de Letras) não tivesse gente bem comportada. Pois, quando menos se espera, o sr. Oswaldo Orico, acadêmico de fardão e espadim, sai-se com uma produção faceta (peculiar, singular, n.d.c.), que, apesar das intenções da análise psicológica e social, não vai além dessa literatura escusa e clandestina, que os folhetinistas inculcam, burlando a vigilância policial. Até faz lembrar o incrível sr. Claudio de Souza, de maçante memória, com as suas tenebrosas obscenidades...

Convenhamos, isso não vai bem para uma pessoa séria, principalmente tendo-se em vista que a coisa saiu publicada num suplemento feminino. É verdade que os cronistas sociais, que são os mais lidos pelo mundo feminino, não primam, hoje em dia, e lastimavelmente, pela moralidade. Entretanto, escrevem com elegância e maciez, destilando suavemente venenos mortíferos. Especialmente, não cometem a vulgaridade de querer justificar o que é imoral, com auxílio de ciências e sociologias. Não, para eles o pecado não deixa de ser pecado; apenas é refinado, é grã-fino a gente cometer tal ou qual pecado.

Se a atitude dos cronistas mundanos é corrompida, a do sr. Oswaldo Orico é reles. O seu conto (o corpo de delito é um conto) é uma moxinifada (miscelânea, n.d.c.) pesada, espécie de bolo mal crescido e indigesto, em que, num estilo torcido e amarfanhado, se contam as vantagens da infidelidade conjugal feminina, vantagens sociais e econômicas. Parece que houve uma certa intenção crítica à sociedade contemporânea; isto não está claro. O que ficou patente, isto sim, foram as supraditas vantagens.

Ora, para quem conhece a degradação que lavra nas altas camadas sociais no que concerne à estabilidade conjugal, torna-se evidente o perigo que publicações deste gênero representam para os costumes.

Dir-se-á que somos atrasados, que a moda hoje é outra e que, no final das contas, tudo é relativo. Neste caso, devemos achar encantador o hábito que tem as senhoras da alta sociedade persa de se perfumarem com alhos e cebolas. Isto lá é a última moda. Que diferença há entre a moda oriental e a ocidental? As senhoras da Pérsia poderão cheirar mal. As de cá...


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