Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Café, policultura e igualitarismo socialista

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 27 de agosto de 1939, N. 363, pag. 2

 

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Certo jornal desta nossa Capital, que se tem caracterizado pela sua atitude conservadora, inseriu, na secção de Direito Social, um artigo que surpreende pela orientação socializante que revela.

A tese do articulista é a seguinte: o Brasil atravessou uma fase de desenvolvimento econômico em que predominava o clã rural, ao qual é atribuído o caciquismo, o filhotismo, o oligarquismo, e o que mais haja. Em consequência do predomínio econômico e social do clã, surgiu um tipo de mentalidade arrogante, enfatuada, autoritária, enfim, em tudo semelhante ao que pintam, da nobreza francesa, as fitas (cinematográficas) norte-americanas sobre a revolução (francesa) de (17)89. No Sul do país, entretanto, esta situação evoluiu, por causa da queda do café e subsequente advento da policultura. Assim, de dez anos a esta parte, modificou-se bastante o ambiente social; desapareceu a tal arrogância que era ligada ao latifúndio, para dar lugar à pequena propriedade, com seu proprietário, virtuoso hortelão, bom homem leal, que não trai o seu clube de futebol, e, sem arrogância alguma, vai todos os Domingos, pela tardinha, à venda da beira da estrada, cantar a “Vida Marvada” em companhia do Fornasari e do Pugliese.

Ora, o articulista não tem razão, principalmente no que se refere a São Paulo. É verdade que a pequena propriedade é, em si, uma coisa boa, porque possibilita a posse da terra, senão a todos, ao menos a muitos. Entretanto, o regime exclusivo da pequena propriedade não serve. A grande propriedade agrícola (que não precisa ser latifúndio), tem a sua função necessária.

Vamos a um caso concreto. Conhecemos uma região do interior do Estado (de São Paulo), em que as fazendas são exceções, e as sitiocas, a regra. Os donos daquela poeira de sítios, serão a gente mais honesta deste mundo. Mas, francamente, ali não há, de modo algum, ambiente para o desenvolvimento das ciências, das artes, do refinamento cultural, que não é um luxo porque é a intelectualização da vida, aquilo que faz com que as sociedades humanas tenham uma diferença específica das colmeias e das manadas.

Exatamente o contrário é o que se verifica nas regiões fazendeiras de antigamente, povoadas por famílias qualificadas e tradicionais. Campinas, por exemplo, que no século passado não era mais do que um burgo rural, tinha, porém, uma vida brilhante. Basta dizer que Sarah Bernhardt (famosa atriz francesa, 1844-1923) lá representou.

A fazenda tem, portanto, o papel de manter uma elite, elite que tem uma ação catalizadora sobre as camadas inferiores da população, educando-as e elevando-as. Foi o que se verificou no século passado em São Paulo. Esta ação educativa avulta, considerando que somos um país de imigração, que precisa assimilar o elemento alienígena. Neste caso, mais do que nunca se impõe a permanência das tradições culturais nossas.

Se tudo vier a transformar-se na atomização das sitiocas, baixará o nível social das populações rurais; perderão qualquer influência na ordem política e serão fácil presa do banqueirismo, ou, o que ainda é pior, serão encaixadas na estandardização burocrática do estatismo moderno.


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