Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Espiritismo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de junho de 1939, N. 352, pag. 2

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Conforme noticiamos em nosso último número, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro dirigiu-se às autoridades pedindo a proibição da propaganda, espírita pelo rádio. Segundo a mesma Sociedade, o espiritismo é causa relevante de perturbações mentais, sendo, assim, obra altamente educativa toda restrição que se faça à referida propaganda.

Como se vê, o testemunho é insuspeito, e parte de uma das mais qualificadas instituições de cultura do país.

Mais uma vez, a ciência vem ao encontro da Fé, e a doutrina da Igreja é plenamente confirmada pela observação estrita dos fatos. O catolicismo sempre condenou o espiritismo, não que tivesse em vista propriamente a saúde mental da humanidade, mas visando a salvação eterna das almas. Acontece, porém, que não há nada oposto à salvação que não seja, também, contrário aos interesses temporais do homem, tais sejam a saúde, a fortuna, a cultura etc.

Em relação ao espiritismo, este fato se verifica de um modo todo especial. Acabamos de ver o depoimento da ciência, que se colocou no ponto de vista higiênico. Ora, quando a Igreja rejeita o espiritismo, é em razão de certos princípios de ordem altamente sobrenatural.

Se as sessões espíritas fossem puras mistificações, ainda assim seriam prejudiciais à alma. Entretanto, não estamos apenas em face de mistificações, e será tática errada querer combater o espiritismo só neste terreno. Não há dúvida, em que há por aí muita burla. Porém, não se pode negar que lá sucedem, verdadeiramente, fenômenos extraordinários. Alguns deles poderão ainda ser atribuídos a certas faculdades ainda pouco estudadas do espírito humano. Outros há, contudo, que excedem as possibilidades estritamente naturais. A que os atribuir?

A explicação espírita é inaceitável. Não são, nem podem ser, as amas dos mortos que se manifestam pelos médiuns. O Espírito Santo condenou, no Antigo Testamento, a consulta aos espíritos (Deut. XVIII, 11). Ora, o Espírito Santo é Deus. Logo, Deus não pode permitir que as almas dos mortos atendam aos chamados dos homens. Além do mais, Deus não iria deixar que as almas servissem de instrumento para a satisfação da curiosidade indiscreta de pessoas em busca de novidades. O mundo sobrenatural é uma coisa muito séria, que não pode prestar-se ao papel de companhia de teatro de variedades.

Assim, só nos resta uma explicação para os fenômenos extraordinários: a ação diabólica. Segundo Santo Agostinho, “Deus, por causa de sua justiça, permite nessas circunstâncias coisas tão extraordinárias, que a curiosidade cada vez mais se apura e nos sentimos mais estreitamente presos nos laços do demônio.” Sim, os espíritas têm relação com espíritos, mas com maus espíritos. Eles quiseram desafiar o sobrenatural, por isso Deus os abandona às ilusões do demônio. Esta explicação é confirmada pelos inúmeros casos de possessão que se verificam no espiritismo.

Não é de hoje que os homens têm procurado, por meios e práticas puramente naturais, conseguir objetivos sobrenaturais. Ora, o mundo sobrenatural é inatingível por nossas próprias forças; ele só vem a nós por modo de dom, inteiramente gratuito, sem que para isso a nossa intervenção seja fisicamente eficaz. É de estranhar, portanto, que aquelas práticas antinaturais e, sobretudo, tenebrosas, arruínem a saúde de quem quer que seja?

Deve, por conseguinte, o governo proibir não só a propaganda, mas a prática do espiritismo, seja alto ou baixo, que tudo é a mesma coisa. Acreditamos mesmo que o baixo espiritismo, ainda que mau, é ainda mais benigno, justamente por não ser refinado, e dar margem mais larga à mistificação. O outro é mais satânico.


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