Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 4 de junho de 1939, N. 351, pag. 2 |
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A imprensa deve, muito naturalmente, dar boas informações a seus leitores, deve, mesmo, transmitir notícias interessantes e curiosas. É este o seu papel. Entretanto, o jornal tem uma difusão enorme, é lido por todos, crianças, velhos, homens e mulheres. Ora, daí resulta uma grande responsabilidade: há assuntos inócuos e assuntos reservados; destes últimos a imprensa não pode utilizar-se senão com grande critério, moderação, e, especialmente, grande cuidado. Este é um princípio fundamental de ética jornalística. Infelizmente não pensa assim o “Diário da Noite”. Levado pelo sensacionalismo, fez o maior alarde sobre certo fato extraordinário que se passou em Lima, em que é protagonista uma criança de cinco anos. É fácil de prever a influência nociva que semelhante notícia, acompanhada de grande clichê, irá produzir no espírito da infância exatamente por causa da ingenuidade que a caracteriza. Dir-se-á que a notícia é científica. Em primeiro lugar, nem tudo o que é científico pode ser dito a todo o mundo, porque as coisas não deixam de ser o que são, pelo fato de serem estudadas cientificamente. Depois, a mesma notícia poderia ser perfeitamente apresentada com discreção, em termos velados, só compreensíveis aos cientistas, ou pessoas amadurecidas. Além do mais, o menos que o “Diário” teve em vista, ao publicar, foi o interesse científico. Quantos de seus leitores serão médicos? E nem se fale em vulgarização da ciência. Que bem pode trazer ao progresso da humanidade, divulgação de fatos como o que se passou em Lima? O que se teve em vista, isto sim, foi dar um alimento picante à sensualidade grosseira e boçal que anda espalhada por aí. Hoje, a “ciência” não passa muitas vezes de falta de vergonha, pura falta de vergonha. E se alguém, ao ler isto ficar irritado e chamar-nos de atrasadões ultramontanos, é porque atingimos a fundo onde desejávamos atingir. Nada há tão sensível como uma sem-vergonhice oculta. O fato é que os homens deste nosso século XX já não têm coragem nem lealdade para confessarem abertamente as próprias mazelas. Preferem a hipocrisia da ciência, ou outras que tais. |