Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Participações de noivado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de maio de 1939, N. 349, pag. 2

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Outrora, o noivado era uma instituição social prestigiosa, cercado de respeito e de elevação. O pedido de casamento era um ato solene, protocolar, tão solene mesmo que era um passo difícil para os tímidos. O noivado só era oficializado num grande banquete, em que se reuniam as duas famílias. Logo após, expediam-se as participações, que se destinavam não só aos íntimos, como às mais longínquas relações. Assim, quando a noiva aparecesse com um rapaz, em público, todo o mundo saberia que se tratava de seu noivo, e a sua honorabilidade não ficaria abalada.

Ora, hoje estão caindo de moda estas participações. Muitas vezes, quando menos se espera, a gente é surpreendido por um convite de casamento em que, cuidadosamente, se assinala que os noivos se despedem na Igreja.

Dir-se-á que vivemos numa época eminentemente prática, de uma lealdade esportiva, em que se vai diretamente ao assunto, sem formalidades e rebuços. Eu prefiro dizer que vivemos numa época eminentemente grosseira e sem-vergonha.

Quem não verá, naquelas formalidades, uma ideia profundamente delicada? Nem todos os assuntos permitem uma abordagem direta, sob pena de se corromperem, de perderem o melhor de sua realidade. A vida social está cheia de imponderáveis, de sutilezas, que não são ornamentos que o homem põe sobre coisas chocantes, mas, pelo contrário, são realidades plenamente consistentes. As coisas chocantes só aparecem quando os imponderáveis não são percebidos nem compreendidos. Ora, esses imponderáveis fogem à abordagem direta; fogem, e deixam um pouco de lama.

Assim o casamento, coisa delicada como um objeto de ourivesaria, deve ser, também, considerado com delicadeza, com profunda compreensão, com um tato infinito, sob pena de ser sacrificado o conteúdo propriamente humano. É por isso que, antigamente, o casamento, e o noivado que o precedia, eram revestidos de todo um ritual cheio de beleza, de intimidade, de suavidade. E não me venham dizer que os sentimentos continuam os mesmos sem aquelas formalidades. Quando sou feliz eu rio; e o riso será uma formalidade, ou o modo mais completo de ser feliz? O homem é feito de tal forma, que os seus sentimentos só atingem toda a integridade quando são produzidos externamente. Do contrário, que seriam da poesia, da música, da escultura, de todas as artes? E por que não havemos de fazer da vida em comum uma obra de arte?

Infelizmente o que há é um embotamento das faculdades superiores. Se já não se participa o noivado, é porque já não se respeita o casamento. O paladar moderno já não percebe o sabor sutil das iguarias verdadeiramente refinadas e, como os antigos judeus, tem saudade das cebolas do Egito. Que tanto são os noivados atuais, sem dignidade e sem pudor, sobre que o matrimônio virá apenas estender um véu de decência aos olhos do mundo, isto enquanto o mundo for capaz de escandalizar-se. Será natural? Mas também o gato, que eu agora vejo pela minha janela, andando na sarjeta, é o que pode haver de mais natural.


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