Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O apostolado da burguesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de abril de 1939, N. 345, pag. 2

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Em 1937, S. Em. o Cardeal Pacelli escrevia aos jocistas [membros da Juventude Operária Católica, n.d.c.] belgas a seguinte carta, em nome do Santo Padre:

“Enquanto que em nossos dias, em face da apostasia das massas operárias, arrastada por ideologias e promessas falaciosas, as melhores energias do Clero e da Ação Católica trabalham com entusiasmo na esfera social para reconduzir estas massas a seus deveres cristãos, acontece muitas vezes que não se dá muita importância aos resultados menos eficazes da burguesia e das classes médias, por causa da ilusão em que se cai de que a sua necessidade é menor e que lhes é mais fácil a assistência religiosa. Entretanto, a necessidade e a urgência deste apostolado são igualmente importantes, porque as ruínas da incredulidade e dos novos costumes pagãos também se encontram nestas classes, e, mesmo, numa proporção inquietante; além disso o exemplo que elas dão, para o bem ou para o mal, tem consequências incalculáveis para a religião e a moralidade das classes operárias.”

Uma das consequências desta carta foi a reunião de um congresso jocista em Montreal, Canadá, que foi levado a efeito de 25 a 28 de Fevereiro p.p. O principal objetivo foi a formação daqueles que devem, futuramente, dirigir o país.

Há certas idéias que, por muito propagadas, acabam por penetrar nos espíritos que lhe seriam os mais avessos; essas idéias são quase que respiradas com o ar. Coisa semelhante aconteceu com a pregação socialista e comunista sobre a supremacia da classe operária em relação às demais. Até católicos acabaram por aceitá-la, senão explícita, pelo menos implicitamente. É verdade que tudo predispunha a isso: aquela clamorosa apostasia coletiva, que reclamava remédio urgente; a situação de monstruosa injustiça na distribuição das vantagens e dos encargos sociais, que feria imediatamente o sentimento de caridade dos católicos bem formados.

Entretanto, a classe operária não vale mais do que a burguesa. Se há uma situação iniqua, em que a última prejudica a primeira, ambas devem merecer a atenção do apostolado católico; também, pois, a burguesia, porque, se o trabalhador é explorado do seu trabalho, aquele que o explora está sacrificando os próprios bens espirituais, que são infinitamente mais importantes. Além disso, desde que a sociedade supõe necessariamente uma hierarquia interior, as classes dirigentes têm realmente uma sobrelevância, não só em razão da dignidade, mas também da utilidade. Assim, é do maior interesse social que essas classes funcionem normalmente, pois, sem isso, não há equilíbrio possível. Sempre continua verdadeiro o adágio: as sociedades serão o que forem as suas elites.

É preciso, também, por outro lado, não interpretar de um modo materialista aquela passagem, segundo a qual a Religião Católica é a religião dos pobres. Nosso Senhor Jesus Cristo não desdenhou arrebanhar pessoas ricas e de posição; preocupou-se mesmo, extraordinariamente, em converter a aristocracia sacerdotal e laica de Israel. E, é fácil de ver pelos Evangelhos, se as massas populares não aderiram completamente ao Salvador, foi em parte por causa da influência contrária e preponderante daquela aristocracia. Foi assim que o povo escolhido veio a crucificar o Messias. A pobreza dos membros da Igreja não consiste formalmente na carência dos bens materiais, mas na abnegação de si mesmo, na perfeita humildade, que não é apanágio de classe nenhuma.


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