Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Semana Santa e turismo

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 2 de abril de 1939, N. 342, pag. 2

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Se algum jornal de São Paulo publicasse, na primeira página, um anúncio assim: “Não deveis perder o vosso tempo nas comemorações da Semana Santa; antes, aproveitai-o melhor indo visitar as cataratas do Iguaçu!” — certamente haveriam de chover protestos, e o nosso povo católico sentir-se-ia gravemente insultado, e com toda a razão.

Aquele anúncio não foi publicado. Outro, porém, teve larga divulgação, em que certa conhecida agência de turismo aconselha viagens mirabolantes, para “aproveitar” os feriados da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse reclame não causou maior comoção; entretanto, diz a mesma coisa que o primeiro, isto é, propõe divertimentos em lugar da austeridade que deve caracterizar a conduta, individual e coletiva, nesses próximos dias.

Mas há um ponto mais interessante: haverá infalivelmente pessoas a quem o anúncio, sob a forma realista, que lhe demos, teria produzido penosa impressão; e que, no entanto, o toleraram, senão que o escusaram, sob a forma por que foi efetivamente publicado.

Só isso? Haverá, mesmo, quem se irrite porque, daqui, fizemos estas considerações.

*    *   *

Imunidades da Igreja

Em Niterói, foi preso um sacerdote, acusado de trazer, indevidamente armas consigo. Com uma presteza digna de melhor objeto, o Promotor Público apresentou denúncia contra o Ministro de Deus, declarando-o incurso no art. 377 do Código Penal.

Já se está tornando lamentavelmente frequente este costume de se prenderem padres, como vem acontecendo desde que foram detidos sacerdotes simpatizantes com o integralismo, e sobre quem se atirou a pecha, entre todas risível, de conspirarem contra as instituições.

Entretanto, o Tribunal de Segurança absolve comunistas declarados, que se salientaram nas atividades subversivas de tal forma que não é necessário que lhes digamos os nomes.

Serão eles, por acaso, menos perigosos ao regime do que membros do glorioso Clero Nacional? Ou será mais nocivo um sacerdote, um homem compenetrado do dever por virtude de seu estado, porque traz consigo uma arma?

Mas, sem ir tão longe, quando as próprias autoridades declaram o sr. Plinio Salgado isento de culpa, como suspeitar de padres ministros da Igreja Católica, o baluarte mesmo do princípio de autoridade?

Este abuso não pode continuar. A Igreja tem imunidades que precisam ser respeitadas. Um padre só pode ser legitimamente julgado diante de um tribunal eclesiástico. Isso porque o padre tem carismas, tem poderes sobrenaturais, está íntima e especialmente unido a Jesus Cristo, pelo caráter sacramental, e, portanto, está muito longe de ser um homem como qualquer outro.

Sabemos que as nossas leis não levam isso em conta. Mas as leis têm de curvar-se ante a realidade. De fato, o sacerdote é “dispensador dos mistérios de Deus”, e faz parte da estrutura da cristandade, de onde derivam toda a graça, toda a verdade e toda a autoridade. Queiram ou não queiram.


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