Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 25 de dezembro de 1938, N. 328, pag. 6 |
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Houve, há dias, um importante julgamento na cidade de Piracicaba. Tão importante que foi irradiado pela estação local. Aconteceu, entretanto, que apesar destas circunstâncias e, mais ainda, apesar da solenidade da situação, notavam-se no corpo de jurados, alguns indivíduos que levaram o descuido no modo de trajar a ponto de ofender o decoro do tribunal. O mm. Juiz de direito viu-se obrigado a fazer algumas advertências antes do início da sessão. Ora, certo jornal desta Capital entendeu de criticar a atitude do juiz, numa nota cujo título é o mesmo deste “comentando”. Achava o jornalista completamente descabida a advertência do juiz, tão descabida que só se lhe compara a exigência, que porventura se fizesse, de traje de rigor para as sessões do júri. Pois nós achamos isso inteiramente errado. A coisa mais natural do mundo é que os jurados aparecessem de casaca, dada a dignidade do “munus” que vão exercer. Como, porém, isso não é possível, pois que nem todo o mundo possui uma casaca, que se vá ao júri com a melhor roupa que se tem. Sabemos que isso fere de frente a um certo “democratismo” que faz a apologia do suor, dos trapos e da gíria, num igualitarismo por baixo, como se o banho e a decência fossem o privilégio das aristocracias. Este estado de espírito se reveste de modalidades mais subtis: a mania, de origem americana, de certas personalidades oficiais apresentarem-se propositalmente mal vestidas e adotarem atitudes esportivas; ou ainda o costume de frequentar o (Teatro) Municipal com traje de passeio. A mentalidade, no fundo, é a mesma. É uma profanação sistemática de tudo quanto é digno e elevado. Dir-se-ia que o culto das coisas nobres continua em espírito, sem a “hipocrisia” das demonstrações exteriores. Haverá, mesmo, quem afirme gravemente: “Prefiro a lealdade às falsas aparências!”, frase que pertence ao mesmo gênero desta outra: “Pobre, sim, mas honesto!” Por que razão as aparências sempre são falsas? O fato é que o homem não é puro espírito; se ele realmente venera alguma coisa, esta veneração forçosamente se exterioriza. Essa história de “culto interior” quer dizer apenas que já se perdeu o respeito pelo que já não se tributa acatamento visível. |