Plinio Corrêa de Oliveira

 

Uma reunião ideal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, No 314, 18 de setembro de 1938

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Não faltam, infelizmente, nos meios católicos como em todos os outros meios, os pessimistas incuráveis, que se esforçam por ver tudo com cores carregadas, prognosticando, com os braços cruzados, o insucesso das iniciativas de todos aqueles que procuram trabalhar pela Santa Igreja de Deus. Este estado de espírito é, muitas vezes, tão intenso que chega aos limites da patologia. Só uma cura metódica e cuidadosa pode, realmente, restituir-lhes, com um realismo sadio, o desejo de trabalhar e de cooperar com os seus irmãos na Fé, em lugar de resmungar esterilmente sobre dificuldades que muitas vezes nada tem de terrível.

A espíritos que sintam em si a tentação negra do pessimismo, recomenda-se como excelente método de cura, a freqüência às reuniões joviais e eficientes que a Ação Católica promove mensalmente, na Cúria Metropolitana.

Nada se pode imaginar de mais diferente de certas reuniões que o “Legionário” descreveu em recentes artigos de fundo, do que as reuniões da Ação Católica.

Sua primeira característica é a ausência demedalhonismo  ["medalhão": “todo indivíduo cujas aparências vistosas contrastem dolorosamente com a realidade, com fama feita e com valor nulo”]. Não há figurões. A disciplina é rígida e real. Mas tem o condão de não “medalhonisar” os que mandam, e de mover eficientemente os que obedecem.

Aliás, qualquer “medalhonismo” seria impossível no ambiente de jovialidade ponderada e sadia que ali reina. Não existe ali formalismo, conquanto exista muita ordem e muito daquilo que os franceses chamam “rang”. Quem comparecesse a essas reuniões munido de formalismo estéril das frases ocas faria o papel ridículo de quem de casaca fosse participar de uma reunião familiar e estritamente íntima. E, no entanto, todos os detalhes da reunião indicam a existência de uma hierarquia forte e ativa, que detém, dentro da organização, uma autoridade estimada e obedecida.

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O traço mais característico dessa jovialidade construtiva transparece na narração de alguns revezes, aliás inevitáveis, com que a Ação Católica tem tido de lutar.

A Juventude Católica Feminina empreendeu a construção de uma sede. A história dessa sede é a história de muitas das iniciativas que dependem de algum dinheiro. A princípio, muito entusiasmo e, portanto, muitos proveitos. Depois o entusiasmo foi diminuindo e o dinheiro minguando. Depois, o entusiasmo [chega ? – erro de composição tipográfica do jornal impresso] à fase aguda em que o empreendimento começa a parecer inviável a alguns - os que menos trabalham, em geral - e os autores da iniciativa começam a ser recriminados.

A essa altura, o que faria muita associação? Ou se entregaria ao esforço estéril das dissensões ínfimas, ou deixaria indefinidamente suspensas as obras, imprimindo a respeito, em seu relatório do fim do ano, alguma frase oca e sonora, tão oca e tão sonora quanto seus cofres vazios: “as obras de nossa casa continuam no andamento compatível com as dificuldades impostas pela crise”; ou então “não se descurou a atual Diretoria das obras da sede da associação que continuam a caminhar normalmente”. Normalmente como? Com o passo do caranguejo...

Foi outra a orientação da Juventude Feminina. Nem desânimo, nem recriminação, nem pessimismo. Mas cantos joviais, sob a forma de “confissões” alegres. Em diversas poesias ligeiras, acompanhadas ao piano, jovens cantoras diagnosticaram com fina malícia as causas da dificuldade em que se encontravam. Foram mesmo distribuídas algumas carapuças. Mas tão leves, que pareciam de papel de seda... conquanto entrassem inteirinhas, fazendo rir no entanto, e muito gostosamente, todas as “vítimas”. O que o mais inexplorável dos realistas diria disseram-no as cantoras. Mas com tanta leveza, com tanta graça, e sobretudo com tanto espírito construtivo, que o pessimismo nem sequer transpareceu, e o auditório só ouviu admoestações úteis, e cheias de encanto. O resultado não se fez esperar: as atividades em prol da coleta de fundos continuam mais intensas do que antes, e, se Deus quiser, não levará muito tempo para que a sede esteja construída.

Outra praxe digna de nota pelo que significa é a evocação dos representantes dos diversos setores, para que contem os progressos feitos durante o mês.

Cada qual fala com concisão maior do que o outro. Mas concisão substanciosa que resume, dentro da modéstia de um estilo quase telegráfico, resultados concretos e muitas vezes notáveis. Novos setores fundados, recepção de novos membros, inauguração de campanhas de vulto, tudo se diz, tudo se conta, tudo se narra com aquela brevidade que é uma marca característica da despretensão e um atrativo insubstituível em todas as reuniões.

Qual o espírito dessa praxe? A Ação Católica é essencialmente orgânica. E seus setores devem, pois, nutrir um mútuo interesse por tudo quanto fazem. E o mais novo dos jocistas do mais distante dos bairros da Arquidiocese deve sentir entusiasmo pelo que faz a JUC ou JIC, assim como o mais atarefado dos dirigentes da JIC, JUC, JEC, da Liga Feminina ou dos Homens da Ação Católica deve sentir entusiasmo por qualquer vitória dos mais novo e do menos conhecido dos núcleos JOCISTAS. Por isto, para satisfazer a curiosidade afetuosa dos outros setores e só por isto, é que cada Presidente narra o que realizaram seus dirigidos. E para isto poucas palavras bastam.

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Vem por fim a palavra de ordem da Autoridade Eclesiástica. Seria de se ver o respeito carinhoso com que é ouvida. Nota-se que S. Ex.a Rev.ma o Sr. Bispo Auxiliar se sente perfeitamente “em casa”. Sua palavra corre animada, fluente e despreocupada. Fala como a filhos a quem pode livremente comunicar todas as suas decisões na certeza de ser obedecido sem rebuços nem resmungos. Pelo contrário, sabe que será obedecido sem tergiversações, e que, por isto, pode dizer direta, clara e positivamente o que deseja.

E a reunião se encerra dentro de um ambiente de entusiasmo e de cordialidade.

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Um último detalhe que é altamente confortador é verificar-se a cooperação efetiva que as associações auxiliares da Ação Católica vem prestando a esta última. Presidentes de Congregações, membros de Diretorias etc., já tão onerados com suas ocupações habituais, vem à reunião da Ação Católica, à qual pertencem para cooperar com esta, na qual vêem com razão a “menina dos olhos” do Santo Padre. A própria Presidente da Federação Mariana Feminina estava ali presente. Bem se vê que a admirável capacidade formadora das Congregações e das Pias Uniões está produzindo seus frutos, e que a obra ingente de verdadeiros heróis do apostolado como o Rev.mo Pe. Cursino de Moura, e o Pe. Eduardo Roberto atinge uma extraordinária eficiência, para a maior glória de Deus e exaltação da Santa Igreja.

E o Exército Azul de Nossa Senhora, que tem sido a ufania e a esperança do Brasil, cumpre mais essa missão verdadeiramente providencial de fornecer à Ação Católica muitos dos de quase todos os elementos de que esta se compõe.

Nota: Os negritos são deste site.


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