Plinio Corrêa de Oliveira
A
palavra do Pe. Garrigou-Lagrange aos leitores do “Legionário”
Legionário, 11 de setembro de 1938, 1ª. página, n. 313 |
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Achando-se em São Paulo, desde segunda-feira última, o Reverendíssimo Pe. Garrigou-Lagrange [1877-1964], o LEGIONÁRIO, que já publicou uma conferência inédita pronunciada pelo grande filósofo e teólogo dominicano no Rio de Janeiro, quis ouvi-lo sobre a posição da Igreja em face dos angustiosos problemas políticos que têm agitado a Europa nestes últimos anos. Grande animador da imprensa católica, S. Excia. Rev.ma. manteve com o Diretor e redatores desta folha uma viva e interessantíssima palestra, na qual focalizou sobretudo o problema imensamente delicado da posição dos católicos perante as “direitas” e “esquerdas” que se entrechocam tragicamente no mundo contemporâneo. Essa questão é da maior atualidade e se torna particularmente palpitante com a atitude que certos intelectuais católicos da França e de outros países se julgaram autorizados a tomar, contrariando embora, e de modo lamentável, a carta coletiva do Episcopado espanhol. Muito prevenido pelas amplas informações de que dispõe contra as manobras deploráveis tendentes a por os católicos, ainda que inconscientemente, a serviço de interesses compatíveis com a obra demolidora e satânica do comunismo, o Padre Garrigou-Lagrange conserva ainda assim um admirável senso de equilíbrio. Por isso é que se recusa, por outro lado, a abrir créditos irrestritos de confiança e solidariedade a certas correntes que se intitulam de direita, mas que na realidade, como habilmente acentua S. Rev.ma., não são senão pseudo-direitas, que por trás de uma atitude aparentemente construtiva, professam e praticam um socialismo de Estado que chega não poucas vezes às raias do comunismo. Essas pseudo-direitas, inspiradas em uma mística pseudo-espiritualista, não podem ser olhadas pelos católicos como taboas de salvação, pois que a salvação só se encontra junto ao Salvador e este só se encontra na Barca de São Pedro. Como diz o Pe. Garrigou Lagrange, A VERDADE ESTÁ PARA NÓS NA DOCILIDADE ÀS DIREÇÕES DO PASTOR SUPREMO E DOS BISPOS. Consubstanciando suas considerações em um precioso autógrafo, S. Rev.ma. escreveu para o LEGIONÁRIO as linhas abaixo: 7 Sept. 1938 Vous me demandez, chers Messieurs, ce que je pense de cette formule dont plusieurs aiment à se servir aujourd´hui : « L’Église n’est ni à droite ni à gauche ». Personnellement je suis un homme de droite, et je ne vois pas pourquoi je le cacherais. Je crois que plusieurs de ceux qui se servent de la formule citée, en font usage parce qu’ils quittent la droite pour incliner à gauche, et en voulant éviter un excès, ils tombent dans l’excès contraire comme il est arrivé en France ces derniers années. Je crois aussi qu’il ne faut pas confondre la vraie droite avec les fausses droites, qui défendent un ordre faux et non pas le vrai. Mais la droite véritable, qui défend l’ordre fondé sur la justice, paraît être un reflet de ce que l’Ecriture appelle la droite de Dieu lorsqu’elle dit que le Christ siège à la droite de son Père et que les élus seront à la droite du Très Haut. Il est vrai que les droites humaines ne sont pas infaillibles, elles ont leurs exagérations, aussi l’Eglise doit-elle, comme on l’a dit, marcher tantôt sur le pied droit tantôt sur le pied gauche, pour garder l’équilibre et éviter les excès contraires. Elle doit défendre l’ordre fondé sur la justice, et non seulement sur la justice commutative, mais sur la justice distributive, sur la justice sociale, sur l’équité attentive à l’esprit des lois, fondé enfin sur la charité. Elle s’élève ainsi au-dessus de préoccupations humaines des divers partis. La vérité se trouve pour nous dans la docilité aux directions du Pasteur suprême et à celle des Evêques. Comment à ce sujet ne pas être attentif à la lettre collective des Evêques espagnols, approuvée par tant d’Evêques d’autres pays et par les plus hautes autorités ! Au milieu des grands conflits d’opinion, ces directions supérieurs nous gardent dans la vérité qui délivre et qui donne la paix. (signé) Fr. Reg. Garrigou-Lagrange OP.
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