Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Alfândegas líricas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de agosto de 1938, N. 310, pag. 2

 

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Comentando... Alfândegas líricas

Há duas espécies de nacionalismo.

Há o nacionalismo ativo, que é severo para com os defeitos nacionais, reconhecendo-os lealmente, mas confiando na possibilidade de saná-los. Este nacionalismo age como um catalisador das energias do povo; é, no entanto, árduo e austero.

Há, porém, um segundo nacionalismo, que é o antípoda do primeiro. É um nacionalismo que exalta os vícios nacionais e procura apresentá-los como virtudes só porque são nacionais. É um nacionalismo pasmado, derramado, indolente e emoliente, próprio aos fracos e impotentes, aos que não têm coragem de empreender uma reforma trabalhosa. Esse nacionalismo age como um cáustico sobre as melhores intenções e sobre as mais hábeis empresas. É mofino, franzino, mirrado, azedo, todo feito de fracassos, ressentimentos e decepções engolidos passivamente, com o ânimo abatido. É morbidamente exaltado, sentimental e intolerante; mas os nacionalistas desta extirpe venderão a Pátria na primeira oportunidade.

Esse nacionalismo é profundamente imoral: para ele o critério da virtude não é o “bem”, mas o “nacional”. É, enfim, um nacionalismo burocrático, politiqueiro, e que serve, muitas vezes, de capa aos mais baixos manejos. Os nacionalistas deste gênero fazem um uso largo e abusivo da bandeira e do hino nacionais.

Pertence a esta classe de nacionalismo a representação que alguns cantores líricos nacionais dirigiram ao Governo da República. Nesta representação pede-se nada menos do que isso: que o Governo dificulte a vinda ao Brasil de companhias líricas estrangeiras, e impeça, o quanto possível a apresentação de óperas que não as brasileiras. Tudo isso para que esses cantores não tenham o trabalho de educar as suas vozes, e possam impingir ao indígena, o que bem entenderem. Só não pediram um decreto obrigando a aplaudir-lhes as façanhas líricas. Isto ficaria confiado ao patriotismo das vítimas.


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