Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Estatística

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de julho de 1938, N. 306, pag. 2

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Por decreto estadual de 15 do corrente foi instituído, em São Paulo, o Departamento Estadual de Estatística. Este departamento centralizará e controlará os dados estatísticos dos demais organismos administrativos, e encarregar-se-á, também, de pesquisas próprias. Além disso, estará em estreita colaboração com os serviços federais de estatística.

Não há regatear louvores a semelhante iniciativa. Cremos que irá, senão cessar, pelo menos diminuir, a clássica balbúrdia até agora reinante, nessa matéria da apreciação quantitativa de nossa vida nacional. Para dar uma ideia do que fosse essa balbúrdia, basta que se diga que o Recenseamento Estadual de 1934 acusou, para nosso Estado, uma população de 6.900.000 de habitantes e para a nossa Capital, 1.060.000, isto em números aproximados. Pois muito bem, nessa mesma ocasião publicações federais davam, para o Estado de São Paulo, cerca de 7.500.000 habitantes; e para a nossa cidade quase 1.200.000.

Porém, a criação do referido departamento reveste-se de uma importância mais acentuada.

Num país como o nosso, em que o povo tem a imaginação solta e vagabunda, em que um grave e sisudo parlamentar do Império disparatava com a Iracema, “a virgem dos lábios de mel”, que tinha logo o tamanhão de uma palmeira; em que não há barbeiro de subúrbio que não tenha posto em alexandrinos o “luar de prata”; em que literatos de renome se arriscam em geografias sentimentais; para esse nosso país, cujo povo é tão alheio às realidades que nem ao menos sabe alimentar-se bem com os produtos naturais da terra, nada melhor que a ducha fria da realidade nacional, reduzida, muito concretamente, a algarismos.

O Brasil tem sido até hoje o país do “mais ou menos”. Outros poderão ter o barômetro, o termômetro, o higrômetro. Nós temos nosso muito clássico “olhômetro”.

Acabemos com isso. Em vez de “virgens de lábios de mel”, venha um bom recenseamento demográfico, com dados antropológicos e étnicos. Em vez de “luares de prata”, tenhamos boas observações meteorológicas. Em vez de geografias sentimentais, Geografia física, humana, geológica etc., geografia da boa, que é o que serve.

Tudo isso, entretanto, tem para nós, católicos, um significado todo especial. Nesse capítulo de realismo nós temos que dar o exemplo. Que vem a ser, pois, o dom da ciência, distribuído pelo Espírito Santo, senão a capacidade de ver profundamente na realidade das coisas criadas?

Seria, portanto, de toda a conveniência que também nós possuíssemos as nossas estatísticas, para que, conhecendo bem o nosso estado presente, saibamos o que e como devemos fazer. Um verdadeiro progresso exige estas bases positivas.

Assim sendo, justifica-se plenamente a ideia do sr. Vicente Mellilo, propondo que a Confederação Católica, que agrupa todas as associações da Arquidiocese organize um fichário completo. Semelhante medida só poderá ser abundante em frutos espirituais.


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