Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

A Itália em vias de ser nazificada?
 
A significação do decálogo racista adotado oficialmente na Itália

 

 

 

 

 

"O Legionário", 24 de julho de 1938, N. 306

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Mais de uma vez tem esta folha acentuado a perigosa tendência do fascismo a adotar os erros doutrinários que tem feito do nazismo uma das maiores alavancas de descristianização de nosso século.

Muitas vezes a posição que assumimos perante o fascismo não foi bem compreendida. Pensava-se que queríamos contestar os muitos benefícios que Mussolini prestou ao povo italiano na obra da preservação da moralidade e da ordem social, contra os agentes de dissolução que encontrou quando subiu ao Governo, agentes estes que ameaçavam arrastar a Itália ao abismo. São tão evidentes tais benefícios que nem sequer uma pessoa de má fé poderia contestá-los, desde que fosse medianamente inteligente. Porque só uma pessoa totalmente desprovida de inteligência poderia negar aquilo que se apresenta a todos os olhos com a clareza da luz meridiana.

O que, no fascismo, sempre preocupou o "Legionário" foi a sua tendência para os erros do racismo alemão e da estatolatria nazista, tendência esta que se revelava sob três aspectos principais:

a) a manifesta tolerância dos órgãos fascistas para com os erros doutrinários da Alemanha hitlerista, erros estes que eles ou deixavam passar sem a menor censura, ou censuravam de modo tão lacônico e tão indiferente que melhor teria sido calar-se;

b) a publicação de obras de diversos escritores fascistas sustentando positivamente muitos dos erros alemães;

c) a franca colaboração do Sr. Mussolini na nazificação da Europa Central, colaboração esta que o próprio "Duce" pretendeu justificar em discurso que fez.

Quanto à situação religiosa da Itália, o "Legionário", sem contestar os numerosos aspectos pelos quais ela se manifesta favorável, limitou-se apenas a acentuar que neste quadro havia sombras, e sombras situadas exatamente em campos muitíssimos importantes para os católicos.

Nazismo e comunismo

Mais de uma vez, o "Osservatore Romano" tem insistido sobre as múltiplas analogias existentes entre o nazismo e o comunismo, apesar das aparentes antinomias que o nazismo gosta de ostentar. Principalmente, o órgão do Vaticano mostra que não há razão, sob muitos e muitos pontos de vista, para que se prefira o nazismo ao comunismo, uma vez que ambos tendem, embora por processos diferentes, para a franca extinção - que aliás nunca obterão - da Igreja Católica. (...)

Não é menos verdade que as tendências das democracias liberais para o comunismo não são mais patentes nem mais intensas do que as tendências do fascismo para o nazismo. Assim, pois, o fascismo não deve inspirar menores apreensões do que as democracias.

Então, quem preferir? (...) Quem escolher?

A esta pergunta, respondemos com facilidade. Entre Pilatos e Herodes, para que escolher? Por que não ficar simplesmente com Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Igreja?

Não é esta, para o católico, a única posição legítima?

Leão XIII, a este respeito, já se definiu com clareza absoluta. Todos os regimes justos podem ser bons ou maus conforme as circunstâncias. Neles, o que o católico sobretudo deve procurar é a garantia que oferecem à Igreja de que Ela realmente poderá, com segurança e liberdade, desempenhar sua missão divina. Se as democracias [anticatólicas] e o fascismo "nazistizante" inspiram ambos receios, para que optar entre um e outro? Não será melhor insurgir-se contra os erros doutrinários de ambos, sem contestar o que em ambos possa haver de legítimo?

Um sintoma significativo

Pessoas que só compreendem a solidariedade política com um incondicionalismo que nenhum regime temporal pode merecer não têm querido ou não têm podido reconhecer com serenidade a posição do "Legionário" nesta delicada questão.

Um documento singular, que oferecemos à meditação dos leitores, lhes demonstrará que nossas apreensões são legítimas. Trata-se de um decálogo racista, oficialmente adotado na Itália. Como os leitores podem ver, ele se destaca pela sua ambigüidade. Redigido com cuidado para não exacerbar as convicções religiosas do povo italiano, contém ele proposições elásticas que, tomadas em um sentido, poderiam ser talvez adotadas por um católico, e, em outro sentido, encheriam de satisfação os mais intransigentes racistas alemães. Infelizmente, é tão expressivo que deixa poucas margens a qualquer dúvida sobre as tendências do fascismo.

É o seguinte o documento em questão:

1) Admite-se que existem raças humanas. Isto não quer dizer, "a priori", que existem raças humanas superiores e inferiores mas somente raças humanas.

2) Existem raças grandes e pequenas. Destas últimas, são um exemplo as populações nórdicas e mediterrâneas, que constituem, "do ponto de vista biológico, verdadeiras raças, cuja existência é verdade evidente".

3) O conceito de raça é puramente biológico.

4) A população da Itália é na maioria de origem ariana e ariana é sua civilização. "Esta população de civilização ariana vive há milhares de anos na nossa península; é bem pouco o que fica da civilização de gentes pré-arianas. A origem dos italianos atuais deriva de elementos de uma raça que constituem e constituíram o tecido eternamente vivo da Europa".

5) A contribuição de massas importantes de homens, nos tempos históricos, é pura lenda. "Além da invasão dos lombardos não houve na Itália sensíveis movimentos de povos que tenham podido influenciar a fisionomia racial da nação. Esta continua a mesma que há 1000 anos; os 44 milhões de Italianos de hoje pertencem, portanto, em grande maioria, a famílias que vivem na Itália, desde há, ao menos, 10 séculos".

6) Existe hoje uma raça italiana pura. "Esta afirmação não se baseia sobre a convicção de uma concepção biológica de raças e na concepção histórica e lingüística dos povos e das nações, mas sobre um parentesco muito puro de sangue que une os italianos de hoje "às gerações que povoaram a Itália há milhares de anos. Este antigo parentesco de sangue é o maior título de nobreza da nação italiana".

7) É tempo que os italianos se proclamem francamente racistas. "Tudo o que o fascismo fez na Itália até aqui é no fundo racismo puro. A questão racista deve ser tratada no ponto de vista estritamente biológico, sem intenções filosóficas ou religiosas. O conceito de racismo deve ser essencialmente italiano e sua orientação deve ser ariano-nórdica. Isto não quer dizer que se deva introduzir na Itália as teorias do racismo alemão ou que se deva afirmar que escandinavos e italianos são a mesma coisa. O que se quer é somente mostrar aos italianos um modelo científico e sobretudo psicológico de raça humana, que se destaca completamente de todas as raças "extra européias".

8) É preciso fazer uma distinção nítida entre os povos mediterrâneos da Europa (ocidentais) e os orientais africanos. As teorias que sustentam a origem africana de certos povos europeus e compreendem uma única raça, a comunidade mediterrânea e as populações semitas, devem ser consideradas como perigosas".

9) Os judeus não pertencem à raça italiana. Os judeus constituem a única população que nunca se assimilou à Itália, porque é formada de elementos raciais não europeus, absolutamente diferentes dos elementos que deram origem aos italianos".

10) Os caracteres físicos e psicológicos puramente europeus dos italianos não devem ser alterados de nenhuma maneira. "A união é admissível somente no círculo das raças européias. O caráter puramente europeu dos italianos é alterado pelo cruzamento com raças extra européias, que trazem uma civilização diferente da civilização milenária dos italianos".

O "Giornale d'Italia", que publica esse documento, declara que "estes pontos anunciam uma ação destinada a marcar profundamente os costumes e a criar no povo uma nova mentalidade em matéria de raça".


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