Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...
 
Frutos do profissionalismo nos esportes

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de julho de 1938, N. 305, pag. 2

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Disse alguém que o Brasil é o “país do carnaval”. Felizmente, não é verdade. E, felizmente, também o carnaval de 1938 já denunciou uma sensível decadência em relação ao de 1937!

Mas o que ainda se pode dizer é que o Brasil é o “país do futebol”... Prova-o o interesse formidável despertado pelo campeonato mundial realizado há pouco tempo na França e que fez palpitar aceleradamente o coração de milhões e milhões de brasileiros... Cremos que em nenhum dos países que participou da “Copa do Mundo” a repercussão do torneio foi tão grande, o entusiasmo popular tão intenso.

Desde às vésperas do primeiro jogo, quando os jornaleiros saíam pelas ruas anunciando que “Pimenta havia escalado o quadro brasileiro” até à irradiação das últimas partidas, provocando a suspensão do expediente nas repartições públicas, só se falou, durante esse tempo, em Leônidas, Walter e Domingos ou nos “famigerados” juízes europeus...

Não nos cabe comentar as vibrações provocadas pelo mais empolgante dos esportes. E não admira que o virtuosismo do jogo artístico dos futebolistas brasileiros, desnorteando os jogadores europeus habituados a uma técnica matemática e fria, tivesse despertado em tanta gente o interesse pelo popular esporte bretão.

Nem nos queremos referir aos excessos a que se entregaram muitos torcedores. Mas as maiores sombras ao quadro em questão acabam de aparecer agora, por ocasião do regresso dos jogadores brasileiros: essas acusações mútuas que o técnico da delegação e alguns jogadores vem formulando pelos jornais.

Não queremos entrar no mérito das questões discutidas, senão apenas fazer um pequeno mas significativo confronto.

Lembrem-se os amigos do esporte o que foi a excursão feita pelo C. A. Paulistano à Europa em 1925. Não houve, em absoluto, essas notas destoantes que vieram empanar o brilho da representação brasileira no Campeonato Mundial de 1938. No entanto, os dirigentes daquele clube paulista não precisaram tomar as precauções disciplinares que foram agora postas em prática pelos chefes da delegação brasileira através dos “regulamentos”, “contratos” e “sanções” estabelecidos antes da partida.

Lembrem-se mais que há entre as duas épocas uma diferença profunda, capaz de explicar muitos dos fatos desagradáveis que acabamos de presenciar: o futebol remunerado não havia ainda sido adotado em 1925.

Infelizmente, não é essa a primeira colheita dos frutos amargos do profissionalismo, que só tem contribuído para rebaixar o nível moral dos esportes e deseducar a mocidade que os cultiva.


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