Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 19 de junho de 1938, N. 301, pag. 2
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Certo jornalista nacional, assaz conhecido pelo brilho de seu espírito como pelo respeito a certos “princípios”, meteu-se a apóstolo do Estado Novo. Vendo que as coisas não iam lá muito bem paradas pelas regiões da liberal democracia, aderiu incondicionalmente à corrente de idéias predominante. Mais do que isso; vendo que a nova tendência era a de reforçar a autoridade, lançou-se num totalitarismo “outré” [exagerado], que nunca foi declarado oficialmente pelos nossos governantes. Este jornalista teria raciocinado mais ou menos assim: parece que os responsáveis pelo Estado brasileiro estão querendo empurrá-lo para o bloco das nações totalitárias. Portanto, colocar-me-ei lá antes deles, e ajudá-los-ei a franquear o passo. Depois... Felizmente, porém, cremos que o seu faro o enganou. Estas considerações ocorreram-nos à leitura de um artigo, em que o citado jornalista faz a apologia do monopólio exclusivo do Estado em matéria educativa. Não acreditamos em sua sinceridade. Temos, no entanto, o dever de refutar as idéias contidas em tal artigo, porque elas podem desorientar os espíritos. Em primeiro lugar, é necessário por em seus devidos termos as idéias sobre a eficiência do Estado. Está hoje muito espalhada a superstição do Estado; faz-se mesmo uma verdadeira poesia em torno da ação do Estado, para qualquer coisa que não anda bem, quer-se logo a sua interferência. Vamos, porém, à realidade. A realidade é a Repartição do Correio e Telégrafos de São Paulo, é a Central do Brasil [antiga rede ferroviária, conhecida por seu péssimo funcionamento, n.d.c.], é o abastecimento de água da Capital Federal etc. etc. Em contraposição, há companhias particulares que exploram serviços públicos e que prestam reais benefícios à população como a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Será que o monopólio da educação pelo Estado iria ser útil? Na Rússia esse monopólio existe. Será muito elevado o nível cultural do povo russo? Estava, pois, com a razão o atual titular da pasta da educação, o ilustre ministro Capanema, quando afirmou ser a liberdade espiritual o terreno propício da educação por ser a condição do desenvolvimento da personalidade, e, por aí, constituir a base do florescimento da cultura filosófica, científica, literária e artística. O monopólio oficial da educação poderá fazer dos indivíduos boas peças para a máquina do Estado; mas o Estado não deve ser máquina, porque deve ser vivo, e o indivíduo não deve ser uma peça, porque é homem e tem uma finalidade que transcende infinitamente ao Estado. O homem existe para ter uma vida digna e bela, que se deve consumar em Deus, e não para vegetar na cinzenta mediocridade de uma colmeia ou de um formigueiro. |