Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Eutanásia

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 22 de maio de 1938, N. 297, pag. 2

  Bookmark and Share

A imprensa paulistana divulgou amplamente o caso daquela Helaine Colan, menina de cinco semanas, atacada por um tumor canceroso que, tendo-lhe já inutilizado uma vista, ameaçava a sua própria vida. O palpitante do caso estava em que se reunira uma comissão composta de cientistas e de dois rabis, que iria decidir entre a extirpação da vista afetada e a eutanásia, isto é, a morte sem dor da referida menina.

Como se vê, havia abundante pasto para o sensacionalismo. Certo vespertino, coerente nisso com os seus processos, e torcendo a questão para o lado da eutanásia, chegou mesmo a exclamar pateticamente, do alto de suas manchetes: “irá viver um monstro?!”

Felizmente venceu a opinião de que se devia procurar salvar a vida da infeliz criança. Telegramas de Chicago informa-nos que foi feita a operação. Por certo andou nisso a influência dos rabis, pois, como se sabe, a lei mosaica proíbe terminantemente o homicídio.

O interessante, no entanto, é notar a efervescência que produziu a expressão “comissão de cientistas”. A imprensa rodeou-a de respeito, e é indubitável que o público a recebeu como a um velho tabu. O povo tem, ainda hoje, uma espécie de crença supersticiosa pela opinião dos “cientistas”. E assaz frequentemente os “cientistas” abusam dessa crença fazendo escorregar, sob rótulo científico, opiniões pessoais absolutamente estranhas à ciência.

Expliquemo-nos.

Voltando ao caso de Helaine Colan, suponhamos, o que é muito provável, que algum cientista se tenha manifestado pela eutanásia. Este cientista teria dito aproximadamente o seguinte: “Considerando que sem a operação, a criança morrerá fatalmente; considerando que a operação não é garantia plena de sua vida; considerando, além disso, o seu sofrimento atual e futuro; o melhor será liquidá-la sem dor”.

Ora, essa conclusão se estriba em três postulados: 1) o homem não existe para sofrer; 2) depois da morte não há sofrimento; 3) a vida só se justifica pelo prazer.

Se negarmos um só destes postulados já não será possível aquela conclusão. Ora, como é fácil de verificar, esses postulados são estranhos à ciência. Eles não aparecem debaixo de nenhum microscópio, nem na ponta de nenhum bisturi.

A ciência só afirma o que é, nunca o que deve ser. Isso porque a ciência apenas descreve o mundo físico. É necessária a especulação sobre a natureza e os fins da ação humana para se saber o que deve ser feito e o que deve ser evitado. Essa especulação quem a faz é a Moral. E a Moral prova que, a não ser em legítima defesa, todo homicídio é ilegítimo e culpável. E, também, não é preciso muita especulação para ver o erro de cada um daqueles postulados.


Bookmark and Share