Plinio Corrêa de Oliveira

 

Mussolini e o nazismo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de maio de 1938, N. 296, pag. 8

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A Via Imperial, pela qual transitaram solenemente os chefes do fascismo e do nazismo, é uma das avenidas monumentais recentemente abertas em Roma. Presta-se bem às exibições espetaculosas dos regimes da pseudo-direita

Deixando de lado os comentários meramente políticos sobre a visita do Sr. Hitler ao Sr. Mussolini, façamos algumas observações sob o ponto de vista religioso.

Serão amargas. Mas já se tem dito que as reflexões as mais dolorosas são como certos remédios amargos que perdem toda a sua eficiência quando ministrados juntamente com açúcar ou qualquer outra substância doce.

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Comecemos pelo começo. Como obteve o Sr. Mussolini público para aplaudir nas ruas o Sr. Hitler? Procurando iludir os católicos sobre a atitude do Papa.

É típico o fato seguinte:

O “Osservatore Romano” publicou sobre o “Anschluss” um comunicado oficial, que tornava patente o desagrado com que a Santa Sé recebeu o fato.

Este comunicado foi reproduzido por todos os jornais do mundo, com exceção dos de Roma, onde a censura fascista impediu sua divulgação.

Poucos dias depois, em novo comunicado o “Osservatore” estranhava esta atitude desleal das autoridades fascistas.

Naturalmente, o Sr. Mussolini precisava arranjar público para aplaudir o Sr. Hitler na espetaculosa recepção que lhe preparava. E por isto quis dar aos católicos italianos a impressão de que a divergência entre a Santa Sé e o nazismo não era tão grande como se supunha.

Fatos como este definem a verdadeira fisionomia do homem em que erroneamente se quer ver o paladino da Igreja em nosso século. Não negamos os serviços por ele prestados à Igreja. Mas era de seu interesse político prestá-los. Agora, é à cruz suástica que ele quer servir, porque este é no momento o seu interesse.

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Durante a visita, confirmaram-se plenamente as opiniões externadas pelo “Legionário” sobre a inegável afinidade doutrinária existente entre o nazismo e o fascismo.

Durante a visita o Sr. Mussolini de um lado afirmou a identidade de princípios entre o fascismo e o nazismo durante o banquete que ofereceu ao “führer” e, de outro lado, o Sr. Hitler declarou textualmente aos jornalistas que o foram entrevistar:

“Folgo também em registrar a íntima compreensão entre o fascismo e o nazismo. É, sem dúvida, o mesmo mundo que o nosso. A comunhão de idéias é partilhada pelos dois povos, conforme o Sr. Mussolini pode constatar durante a sua viagem à Alemanha, da mesma forma que eu o constato na minha atual viagem à Itália”.

Não só estas declarações, como outras do Sr. Hitler, que não reproduzimos por amor à brevidade, comprovam por assim dizer oficialmente nossa tese. Também foi particularmente expressivo o banquete de confraternização dos partidos nazista e fascista, oferecido em um velho monumento da Roma pagã pelo secretário geral do fascio ao secretário geral do partido nazista.

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Apesar de declarações tão positivas sobre as afinidades entre o fascismo e a heresia nazista, o Sr. Mussolini teve o desplante de querer que o Papa não protestasse.

E o “Popolo d'Italia”, jornal do Sr. Mussolini, irritou-se com as medidas tomadas pelo Vaticano durante a visita do Sr. Hitler e com as enérgicas palavras com que o Papa lastimou que, no dia da Santa Cruz, se elevasse em Roma outra cruz que não a de Cristo.

E o órgão fascista repetiu os eternos conselhos que todos nós estamos acostumados a ouvir, como o seguinte: “nós, católicos, gostaríamos de dizer ao Papa que é muito perigoso falar da cruz de Cristo, manejá-la como uma arma e depois encontrar-se só frente a frente com os bolchevistas”.

É curiosa a mania dos atuais homens da política de se dizerem católicos, para aconselharem o Vaticano a seguir a orientação que eles desejam e não a orientação ditada pela doutrina católica.

Só essa atitude já é o maior sinal da sua falta de convicções católicas sérias, porque o Papa é o Chefe da Igreja Católica, como tal, todo católico deve seguir a sua orientação, sem o que deixa de merecer o nome de católico.

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Por outro lado, é de se notar a insistência em afirmar que a Igreja é impotente contra os seus inimigos, precisando, portanto, de encostar-se nos governos fortes para dar-lhes combate.

Na verdade, essa insistência demonstra justamente o contrário. Eles é que precisam da Igreja, e daí a célebre mania de se proclamarem católicos. A Igreja de Deus não precisa de ninguém e se por vezes ela parece correr perigo, são apenas momentos de luta, a que se segue invariavelmente a sua vitória, para felicidade do mundo e maior glória de Deus.

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Ao lado de tantos erros doutrinários e políticos, mencionemos um erro financeiro.

Não há quem não conheça as péssimas condições financeiras da Itália, forçada ainda há pouco a pedir um empréstimo em Londres. No entanto, o Sr. Mussolini despendeu 13 milhões de dólares com a recepção do “führer” alemão, ou seja, a soma fabulosa de 221.000.000$000.


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