Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Evangelho
 
Os sofrimentos e a glória

 

 

 

 

 

Legionário, 8 de maio de 1938, N. 295, pag. 5

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Terceiro Domingo depois da Páscoa

Evangelho segundo São João, cap. XVI, vers. 16-28

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: um pouco e não me vereis, e ainda um pouco e tornareis a ver-me porque vou ao meu Pai. Então disseram alguns de seus discípulos entre si: que quer Ele dizer-nos – um pouco e não me vereis, e ainda um pouco e tornareis a ver-me porque vou a meu Pai? Diziam, pois – que significa isto: um pouco? Não sabemos o que Ele quer dizer. – Vendo Jesus que eles queriam interroga-Lo, disse-lhes: um pouco e não me vereis, e ainda um pouco e tornareis a ver-me. – Em verdade, em verdade vos digo que haveis de chorar e gemer, e o mundo se há de alegrar; estareis em tristeza, mas a vossa tristeza se há de converter em gozo. – A mulher, quando dá à luz, tem tristeza porque é chegada sua hora; mas depois que deu à luz o filho, já não se lembra de seu sofrimento pela alegria que sente de ter dado um homem ao mundo. – Assim vós também tendes agora tristeza, mas eu vos tornarei a ver, e vosso coração se há de alegrar, e a vossa alegria ninguém vo-la poderá tirar. 

Ressurreição (Luís Borrassà, sec. XIV-XV, Museu de arte catalã)

 Comentário

No seu sentido imediato, estas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo se referem à sua próxima ausência durante sua Paixão e Morte, seguida de pouco por sua gloriosa Ressurreição.

Os discípulos que se encheram de luto, tristeza e desânimo com a prisão do Mestre, exultaram de uma alegria inefável quando O viram, novamente, ressuscitado. E ninguém foi capaz de arrancar-lhes a alegria de seguir a Jesus Cristo. Prisões, açoites, injúrias e mesmo a morte foram incapazes de os afastar de seu Mestre e Senhor.

***

Com Santo Agostinho, alguns comentadores entendem este Evangelho noutro sentido, e talvez seja o sentido proposta pela Igreja à meditação dos fiéis ao inserir a leitura destas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo na liturgia do tempo que segue a Ressurreição.

Para Santo Agostinho, aquele pouco de tempo em que Jesus se ia ausentar deste mundo, dos seus discípulos, e dos fiéis em geral, encerra o espaço de anos que medeia entre sua Ascensão à morte de cada fiel, ou, de modo mais geral, e Sua segunda vinda, no fim do mundo para julgar os vivos e os mortos.

Bem que pareça longo em demasia este espaço para dele poder dizer-se “um pouco”, estimado segundo a eternidade – que não tem fim – não passa de um tempo brevíssimo. Para o Senhor, dizem as Escrituras, mil anos são como o dia de ontem que passou.

Segundo esta interpretação Jesus teria predito as perseguições que, por Seu nome, sofreriam os Apóstolos, na obra de evangelização dos povos, com grande regozijo dos maus pelo fracasso dos santos, e o triunfo de sua malícia.

Não deveriam, porém, os Apóstolos e os fiéis desfalecer, mas permanecer constantes na esperança, pois abrasado e consumido tudo que a soberbia dos homens edificou sobre a terra, começará a alegria eterna dos eleitos na posse de Deus num gozo que não mais há de terminar.

***

Nesta última interpretação, encerra este evangelho proveitosíssimas lições para os discípulos de Cristo. Não devem eles neste mundo esperar senão sofrimentos e penas, pois é assim que se assemelham ao seu Divino Mestre. E não há outra maneira de serem, depois do currículo terrestre, admitidos à participação de sua glória.

“É difícil, mesmo impossível, comenta São Jerônimo, que possa alguém gozar dos bens presentes e dos futuros, que aqui possa encher o ventre e lá recrear a mente, passar dos prazeres para as alegrias, ser o primeiro em um e outro século, ter glória na terra, e obte-la igualmente no Céu”.

Com maior energia Tertuliano: “És excessivamente delicado, ó cristão, se também no século almejas gozar, és até estulto se julgas que aqui haja gozo verdadeiro”.

Não vos pareça, pois, longo o pouco tempo de nossa provação. Ele é longo apenas na aparência, porque “nele ainda nos encontramos; quando tiver terminado, então perceberemos o quanto foi breve”.

“Não seja, portanto, nossa alegria como a do mundo, da qual disse o Senhor: O mundo se alegrará. Nem tão pouco nos pese a espera desta nossa alegria. Mas, como o Apóstolo, alegrem-nos na esperança, com paciência nas tribulações; seja-nos exemplo a parturiente, a quem Cristo quis nos comparar, que mais se regozija com o filho venturo, do que se angustia com as dores da maternidade” (Santo Agostinho, trat. 101).


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