Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Cristão ou católico?

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de abril de 1938, N. 291, pag. 2

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Recebemos uma carta de um nazista brasileiro e “cristão” em que se protesta contra os artigos de nosso redator internacional.

Essa carta, aliás interessante por vários títulos, diz, entre outras coisas, o seguinte:

1°) Que estranha que um jornal nitidamente católico, como o LEGIONÁRIO, aceite a “colaboração de pessoa visivelmente suspeita” qual seja a do redator da “Nota Internacional” (...); além disso acrescenta ser o nazismo um “regime de ordem, de trabalho, e de muito patriotismo e humanidade (sic)”;

2°) Que esse nosso redator é judeu. Prova-o o seu nome.

3°) Que o regime ora vigente na Alemanha não é católico, mas é cristão. Da mesma forma, Hitler.

Como prova o nosso missivista cita uma frase do “führer” em que este faz a Deus o excelso favor de referir-se num tropo retórico, ao Seu Santo Nome.

4°) Finalmente, que o LEGIONÁRIO devia fazer uma campanha a favor do reconhecimento do governo de Salamanca pelo Brasil, e outra campanha contra a Rússia de Stalin.

Há nos Evangelhos, uma passagem (Luc XVIII, 20) em que se conta que, interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes Jesus: “O reino de Deus não virá de modo a ser observado, nem se poderá dizer que está aqui ou ali, porque o reino de Deus está dentro de vós mesmos”.

Comentando essa passagem, o atual Arcebispo de São Paulo, então vigário de Santa Cecília, em sua admirável “Concordância dos Santos Evangelhos”, diz as seguintes palavras de palpitante atualidade:

“Os judeus julgavam que o Messias levasse a sua nação à conquista do universo. Não é assim, ensina o Salvador... O reino de Deus virá sem ruído, insensivelmente, sem aparato exterior... Os cristãos que misturam a religião e a política, confundindo-se em um mesmo interesse, ou melhor, subordinando os interesses de sua fé aos da sua grei política, não compreendendo e não admitindo o triunfo da sua religião sem o triunfo do seu partido, fariam bem se quisessem meditar essas palavras” (op. cit., pag. 313).

Além desta consideração de ordem geral, temos a responder que as nossas coleções de dez anos aí estão para provar o nosso combate sistemático ao comunismo. Outrossim, desde o início da guerra espanhola, pusemo-nos entusiasticamente ao lado dos nacionalistas após o malfadado telegrama de apoio à anexação da Áustria.

Quanto ao judaísmo de nosso redator internacional, falhou lamentavelmente o faro “sherlokiano” (neologismo relativo à figura de Sherlock Holmes, personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle, n.d.c.) do missivista: esse redator assina os seus artigos com pseudônimo...

Enfim, a carta que recebemos não passa da manifestação de uma certa mentalidade infelizmente um tanto espalhada. Uma certa mentalidade que (...) engole o camelo do jugo de um povo profundamente católico a um poder satânico e idolatra. Uma certa mentalidade que se compraz com afirmações vagas de “cristianismo”, ou melhor que se cobre com um tênue verniz “cristão” exatamente para seduzir os incautos.

É preciso acabar com essas baboseiras de “cristianismos”. Ou bem somos católicos romanos, ou do contrário estaremos traindo a Cristo. Seja o nosso modo de pensar também como o de falar: sim sim, não não; porque o que sai disso vem do demônio.


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