Plinio Corrêa de Oliveira

 

São permitidas pela Igreja as

exibições femininas

de caráter esportivo?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de novembro de 1937, N. 272, páginas 1 e 8

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Multiplicam-se, entre nós, os desfiles esportivos de elementos femininos, nas ruas ou praças públicas, bem como as exibições femininas de caráter atlético, feitas em público.

É preciso, no entanto, que fique bem claro que a Santa Sé já condenou as cenas desta natureza, o que, de maneira nenhuma, pode uma católica se prestar a figurar em paradas esportivas com os trajes diminutos que são costumeiros entre as que praticam o atletismo, ou as exibições coletivas em grandes estádios ou outros lugares em que haja espectadores ou curiosos.

À vista da insistência com que se repete este intolerável abuso, julgamos oportuno publicar uma carta dirigida pelo Santo Padre Pio XI a respeito do assunto. Refere-se esta carta a uma grande manifestação esportiva de elementos femininos que se planejava em Roma. Profligando o erro que havia nessa manifestação, o Santo Padre escreveu ao Cardeal Vigário de Roma, as palavras que abaixo transcrevemos, nas quais, aliás, não há qualquer condenação para os exercícios ginásticos feitos de modo absolutamente discreto, em lugar particular e sem espectadores, observadas as demais condições necessárias para não ferir o pudor próprio às filhas da Santa Igreja Católica.

“A Vós, Nosso Vigário nesta Roma que é também o centro da Cristandade e Nossa Sede Episcopal, devemos dirigir uma palavra a propósito do Primeiro Concurso Gínico-atlético Nacional Feminino das ‘Jovens Italianas’, que aqui mesmo se realizará nos próximos dias 4, 5 e 6, justamente ao inicio do mês particularmente dedicado a Maria.

“Fazemo-lo com muito pesar, porém, depois de muito refletir e orar, julgamos satisfazer um sagrado dever do ministério apostólico, que nos é imposto por Aquele Supremo Pastor e Senhor das almas que Nos há de julgar: dever de Bispo dos Bispos e dos fiéis de todo o mundo. Numa e noutra qualidade, a Nossa palavra, infelizmente só pode ser de comiseração.

O Bispo de Roma não pode, com efeito, não deplorar que aqui nesta cidade santa do Catolicismo, a sensibilidade e a atenção aos dedicados cuidados devidos às jovens e às meninas se tornem mais fracas que a da Roma pagã, a qual, ainda que em tão grande baixeza de costumes, adotando da Grécia vencida os jogos públicos, os concursos ginásticos e atléticos, por motivo de ordem física e moral de puro bom senso, excluía as jovens, excluídas já em muitas cidades da mesma Grécia tão corrompida.

Não é preciso, na verdade, expor ou mesmo sumariamente relembrar aqueles motivos que já foram muitas vezes expostos: pais, mães e mestres, não prevenidos ou desviados por teorias exageradas e falsas, ou por motivos completamente estranhos à boa e sã pedagogia, compreendem-no e sentem por um natural instinto, apreciam e saboreiam a beleza e a preciosidade sobrenaturais, quando guiados e iluminados pelo sensus Christi,  que é como a alma da alma cristã. Por isso dizemos também Nós com o profeta (Is. 62, 1) ‘Rapteo Sion non tacebant et propter Jerusalem non quiescam’ (Por amor de Sião não me calarei e por amor de Jerusalém não repousarei).

O Bispo dos Bispos e dos fiéis de todo mundo não pode esquecer mais ainda em circunstâncias como estas, que ele é o primeiro dos guardas dado por Deus à nova Jerusalém, e do qual está escrito (Is. 62, 6) ‘que dia e noite eternamente não se hão de calar – tota die et tota nocte in perpetuum non tacebunt’.

“De fato, os fiéis de todo mundo só poderiam, e pouco se diria, se sentir confundidos e desconcertados se Nos encontrassem silenciosos a este respeito, enquanto se passa sob as Nossas vistas aquilo contra o que os Santos Pastores levantaram sua voz, em tempos não muito longínquos, sempre que tal coisa se tenha dada; e os Nossos Veneráveis Irmãos poderiam no Nosso silêncio encontrar grande e penoso motivo para duvidar se o nosso sentir e julgar seja mudado a esse respeito.

“E ainda que não se queiram repetir aqui as audácias ou melhor as desconveniências lamentadas noutros lugares, e Nos dão esperança as precauções e instruções dos organizadores e responsáveis, contudo a natureza e substância das coisas permanecem as mesmas, com as agravantes acenadas de lugar e precedentes históricos. Permanece sempre o vivo contraste com as especiais e delicadas exigências da educação feminina, imensamente mais delicada e respeitável quando esta educação quer e deve ser educação cristã.

Ninguém pode pensar que esta exclua ou aprecie menos tudo aquilo que pode dar ao corpo, nobilíssimo instrumento da alma, agilidade e desenvoltura, saúde e força verdadeira e boa, contanto que se evite tudo aquilo que não concorda com a reserva e a compostura que são o ornamento e presídio das virtudes, contanto que se reprima todo incentivo à vaidade e à violência. Se a mão da mulher deve ser levantada, auguramos e oramos que seja sempre e só em ato de oração e de benção.

“Ainda muito antes e mais amplamente teríamos nos comunicado, Emmo. Sr. Cardeal, num assunto tão alto e importante, se antes pudéssemos ter e conhecer o definitivo do que se estava preparando. A estas poucas e rápidas reflexões somos constrangidos a Nos limitar pela angústia do tempo.

“De coração Vos enviamos com elas, auspícios de todo o bem, a Benção apostólica,

Pio Papa XI.

Na oitava do Patrocíonio de São José, festa de Santo Atanásio, 1928 (A.A.S., Vol. XX, pags. 135-137).

Nota: Os negritos são deste site.


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