Plinio Corrêa de Oliveira

Legionário, 28 de novembro de 1937, N. 272, pag. 2

Dizem os inimigos da Igreja, que Ela é inimiga dos operários, e especialmente que as altas dignidades eclesiásticas só vivem para a pompa das grandes cerimônias, afastadas completamente das massas que trabalham e que sofrem. Convém, por isso, anotar o que a insuspeita Agência Havas noticiou agora a propósito da escolha para Cardeal, de Mons. Gerlier, Arcebispo de Lyon. Eis as passagens mais importantes dessa notícia:

“Licenciado e doutor em Direito, Pierre Gerlier é, ao abrir-se o século, uma das esperanças do foro de Paris. A sua tese de doutorado sobre as “estipulações usurárias no contrato de trabalho”, traduz preocupações sociais que lhe valem a amizade de Albert de Mun.

“Aos 33 anos o já famoso advogado vai bater às portas de um grande seminário. Em 1914, o seminarista Gerlier parte para a guerra. É gravemente ferido e feito prisioneiro. Todos os seus companheiros de então nutrem o mais profundo reconhecimento de afeto e gratidão pelo amparo moral que lhes proporcionou na provação.

“Volta ao Seminário e é ordenado padre em 1921. Os operários e empregados católicos da região parisiense encontram nele um animador incomparável... É elevado a 15 de Maio de 1925, à Sé episcopal de Tarbes e Lourdes.

“Como sacerdote, como Bispo de Tarbes e Lourdes, não descurou nem por um momento do aspecto social de sua missão. Muitas vezes chegou mesmo a causar surpresa, sem jamais escandalizar a opinião, pela ousadia de suas atitudes ou a força de suas fórmulas. A caridade tem sido até agora um dos assuntos preferido de suas práticas”.

Como dissemos, convém anotar e guardar esta notícia. Nunca a Igreja, por seus sacerdotes, estejam eles investidos desta ou daquela dignidade, deixou de olhar com carinho para os desprotegidos da fortuna. E nisto, Ela, como aliás se deu com o próprio Jesus, não poucas vezes chegou mesmo a “escandalizar” os que não compreendem sua missão divina e o papel que Deus lhe reservou.

Não nos esqueçamos do que se deu recentemente nesta Capital, onde um industrial acusou os sacerdotes da paróquia do Ipiranga, como comunistas, pelo fato de ampararem reivindicações justas de operários.