Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Causas de suicídio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de novembro de 1937, N. 271, pag. 2

 

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Estamos em desacordo com o mais recente comunicado do Serviço de Estatística Policial, a respeito das causas dos suicídios verificados em nosso Estado. Em número anterior, já tivemos ocasião de rebater alguns argumentos do referido departamento oficial. No presente número refutaremos um novo comunicado que se seguiu ao já comentado por nós.

Começa o comunicado por afirmar que, das 522 pessoas que se suicidaram ou tentaram suicidar-se em 1936, 209 tinham filhos e 196 eram casados. E acrescenta o comunicado que “é de se presumir que os demais possuíam família”. Do que o comunicado conclui que a má organização da família é uma grave causa de suicídios, que só o divórcio, com a consequente formação de novos lares, poderá remediar. É evidente que entre o argumento e a conclusão, não há a menor relação.

Não seria melhor que a polícia, em vez de apregoar a dissolução das famílias mal constituídas, apregoasse o fechamento dos antros de perdição onde está a causa da ruína da imensa maioria das famílias desorganizadas que hoje são tão frequentes? Em vez de procurar no recesso do lar as causas dos suicídios, não seria mais normal procurá-las nos lugares em que a volúpia destrói as famílias bem constituídas?

Parece, entretanto, que o redator do “comunicado” nem cogita disto, a tal ponto que menciona logo a seguir uma estatística sobre os lugares em que são mais numerosos os suicídios, e mostra que vem em primeiro lugar as residências familiares, com 288 suicídios (50% do total), em segundo lugar as propriedades agrícolas com 83, depois as estradas de ferro com 13, e assim por diante. Por isso, conclui enfaticamente o redator, que “portanto nem os preconceitos religiosos, nem os laços de família conseguem deter a sede de morte”.

O argumento é estranho. Então, porque um indivíduo se suicida em sua casa, deve-se concluir daí que a razão do suicídio são sua esposa e seus filhos? A raciocinar assim, os que se suicidam em estradas de ferro o fazem por causa do maquinista ou do cobrador das passagens. E os que se suicidam na rua o fazem por causa da Prefeitura, dos grilos... ou da própria polícia.

Mas há um argumento mais formidável, na própria estatística, para desmentir a conclusão a que chegou o redator do comunicado. Nos antros de perdição, houve apenas 8 suicídios em 1936. De onde chegaríamos à conclusão de que tais outros concorrem muito menos para o suicídio, do que os lares honestamente constituídos e organizados.

Francamente, seria preferível não dizer coisa alguma, a dizer incongruências deste jaez!


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