Plinio Corrêa de Oliveira

 

Bênção de espadas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de maio de 1937, N. 245

 

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Um lacônico telegrama do “Estado de S. Paulo”, na última quinta-feira, noticiava um fato que, à maioria dos leitores, deve ter parecido absolutamente banal: a bênção das espadas dos novos guardas-marinha pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, na Igreja da Candelária. Quando muito, um ou outro leitor romântico se terá interessado pelo cunho medieval da cerimônia, que lembram ligeiramente as tradições da cavalaria andante, a vigília de armas, o rito litúrgico em que os cavaleiros eram incorporados à cavalaria da cristandade etc. Mas, para quase a totalidade dos leitores, o fato não teve a menor significação.

Entretanto, muito mais que simples reminiscência convencional essa cerimônia deve ser, para os católicos, um ensinamento fecundo em conclusões da maior atualidade.

Por que razão a Igreja abençoa a espada dos militares que, recebendo as dragonas do oficialato, se incorporam à alta direção das forças armadas? Por que timbra Ela em dar às espadas, que são instrumentos de morte, uma bênção que é o penhor da proteção do Deus vivo? Porque a Igreja não vê na espada dos militares senão o baluarte da justiça. A espada do militar é, para a Igreja, não o instrumento com que se mata em guerra de conquista, mas o meio de defesa do direito lesado, da civilização agredida, da moral conspurcada. E se o próprio Salvador não relutou em empunhar o açoite com que flagelou vigorosamente os vendilhões do templo que conspurcavam os direitos de Deus, a Igreja não poderia deixar de abençoar as espadas com que o Estado arma seus paladinos, para a defesa dos direitos da Igreja, da Civilização e da Pátria.

Em outros termos, significa isto que a Igreja, a despeito das entranhas maternais que A movem em relação a todos os seus filhos, não reluta em abençoar a violência, desde que ela seja a santa violência da ordem contra a desordem, do bem agredido contra o mal agressor, da vítima prejudicada contra o causador do dano injusto.

É necessário, evidentemente, que a violência só seja empregada quando todos os outros meios se esgotaram para restabelecer o direito lesado. É necessário, além disto, que ela não exceda em virulência ao limite do estritamente indispensável para a defesa da Justiça. Estas duas ressalvas feitas, entretanto, o exercício da violência não constitui apenas um direito, mas deve, às vezes, constituir um imperioso dever.

Realmente, quando a espada da Justiça se deixa paralisar pela inércia, embora a civilização periclite, a Pátria corra risco e os direitos da Igreja sejam calcados aos pés, ela colabora por omissão com o mal contra o bem, com a anarquia contra a civilização, com o demônio contra Deus. Deserta de seu dever sagrado. Perde o direito ao respeito que merecia. E se transforma, de sublime instrumento de defesa, em inútil fonte de gastos inúteis, ou odioso meio de opressões.

* * *

Toda essa dissertação doutrinária não foi feita sem um objetivo prático. A Justiça e o Exército, que representam respectivamente o braço e o escudo do Estado, têm, no momento que passa, uma grave responsabilidade perante a Nação.

Como estão eles cumprindo o seu dever? E dentro de que medida os católicos cooperam para lhes facilitar o cumprimento desse dever? Porque esse dever é extremamente pesado e a nós nos compete facilitar tanto quanto possível seu cumprimento.

O dever da Justiça, na situação que atravessamos, é extremamente grave e delicado. De sua atitude em relação aos inculpados de atentado contra o Estado em Novembro de 1935 [a intentona comunista, n.d.c.] resultará provavelmente o futuro do Brasil nos próximos 10 ou 20 anos. Se esses inculpados sofrerem uma punição vigorosa, a propaganda comunista sofrerá um grave embaraço. Mas se for demais benigna a ação da Justiça, ela comprometerá os interesses fundamentais do Brasil em benefício de uma meia dúzia de celerados que, movidos de ódio satânico contra a Igreja e a Civilização, não recuaram em 1935 diante da revolta e do assassinato, para conseguir a realização de seu programa criminoso.

Ainda é cedo para que nos manifestemos sobre a ação da Justiça. Algumas de suas sentenças ainda estão em grau de recurso. Esperaremos que o assunto seja definitivamente liquidado, para dar, sobre ele, nossa opinião aos leitores.

Entretanto, ninguém ignora que o dever da Justiça é extremamente pesado de se cumprir. Ameaças de toda a ordem, pressões de todo o gênero, hostilidades de todo o feitio assediam certamente nossos juízes, para arrastá-los a uma conduta benigna para com os partidários do inimigo n.º 1 do Brasil, que é o comunismo.

Enquanto isto se dá, o que fazem as correntes interessadas no combate ao comunismo? Que “meetings” promovem para prestigiar a ação da Justiça? Que abaixo-assinados enviam aos nossos magistrados, para lhes expressar os verdadeiros sentimentos do povo brasileiro? Que manifestações de solidariedade trazem os homens que, com grave risco, exercem a nobre tarefa de defender o Brasil contra a Rússia? (...)

* * *

Ameaças, pressões e, mais do que isto, infiltrações perigosas sofrem nossas classes armadas para arrastá-las na senda do comunismo.

Um pugilo de oficiais e de soldados heróis se apega, entretanto, com pés e mãos - e o que mais é, com inteligência e o coração - ao conceito católico da disciplina. Querem que a disciplina reine em nossas Forças Armadas. Querem que elas sejam mantenedoras da Ordem e da Constituição, e não fautores da desordem e de aventurosas reformas políticas. Dos esforços desta gente heroica que, ao que sabemos, não está organizada, mas que age como fermento nas guarnições do sertão, como nas do litoral, nas do norte como nas do centro ou do sul, depende em grande parte a resistência do Brasil contra o comunismo.

O que fazem os católicos para facilitar, auxiliar e estimular essas resistências? O que fazem eles para evangelizar as classes armadas? Os parlamentares com assento em nossas Casas legislativas o que fazem no sentido de ser introduzida a assistência religiosa nas classes armadas, para que o Capelão possa contrariar eficientemente a célula vermelha, e possa conquistar para o Cristo, com a arma invencível da suavidade e do amor, os próprios asseclas de Moscou?

O que fazem os católicos leigos, repetimos, o que fazem eles enquanto os inimigos de Moscou procuram aproximar-se mais uma vez “da retranca da metralhadora” para voltá-la contra o Brasil?


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