Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 16 de maio de 1937, N. 244, pag. 2
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O sr. Maurício de Medeiros em artigo publicado em “A Gazeta”, entende que a cultura clássica preconizada pelo Conselho Nacional de Educação para a nova orientação do ensino secundário representa um “choque vitorioso da corrente clerical” e é portanto “uma vitória de sacristia, num horror pânico de carolismo assustadiço em face dos progressos da ciência e da luz que ela derrama no espírito dos moços. É uma expressão triunfante dos bolores e mucedores [mofos, n.d.c.] das paredes úmidas dos claustros e monastérios contra a ação vivificante e sadia do sol!” A Igreja não deve resposta nenhuma ao Sr. Maurício de Medeiros. Toda a vida e toda a atividade da Igreja no que diz respeito à ciência e aos sábios, estão presentes a quem quer ver. Ela não precisa estar continuamente a defender-se de acusações que propositadamente dão as costas à verdade. E particularmente não há nenhum “susto” por causa da Ciência!... Quanto ao ensino clássico, porém, queremos opor ao Sr. Maurício de Medeiros tão anticlerical, o Sr. José Feliciano, também não menos anticlerical. Eis o que professor positivista escrevia a 14 de Maio de 1926 no “Estado de S. Paulo”: “Assim, tudo nos demonstra, na evolução humana, que a cultura em nosso tempo só se pode alterar, quando obedecer às altas e radicadas significações do termo... Ato de adoração, de respeito cultural pelo passado — fonte de estudos, de “conhecimentos” para formar nossa razão — que, sem cultura geral fora palavra oca e vazia... Ornamento vivo das coisas, de nossa pessoa, de nossos lares, só assim verdadeiramente habitáveis...” Traquejo e prática de vida, com o exercício das artes belas e das indústrias úteis. E tudo, enfim, nobremente resumido no amanho das terras, para as cidades pacíficas; no progresso moral de uma civilização amável, numa instrução profunda, com educação integral e desinteressada... Alta cultura para manter no mundo a continuidade de um saber, de uma tradição, sem a qual todo o progresso é instável, todo avanço é salto no ar ou desastroso pulo, como o das máquinas sem aderência ou o de aviões desequilibrados. “Nas letras, por exemplo, é necessário que o literato seja um cultor do ensino clássico, das fontes literárias que dão lastro, precisão à língua, segurança ao estilo e consistente clareza ao espírito. Falando agora de um escritor que ficou “um tempo mudo”, para se tornar mais culto, diz Souday que ele foi assim um campeão de alta cultura, um servidor do espírito, e não um simples mesteiral das letras. Foi um “supremo obstáculo à barbárie que nos ameaça”, com esses fabricantes de escritos leves e de cópias à custa de plágios ou de leituras “abecedárias”. “No estudo geral da ciência, da história, da erudição, da filologia ou da mais prestante filosofia, é necessário que se forme aí uma classe desinteresseira e placidamente laboriosa... etc.” Por esta argumentação do anticlerical, Sr. José Feliciano, que não tem “bolores nem mucedos”, o sr. Maurício de Medeiros não passa de um campeão da incultura!... E como tal, nada mais temos a tratar com ele. |