Plinio Corrêa de Oliveira

 

Nem indecisão nem dispersão

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, N.º 243, 9 de maio de 1937

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São muitos os que medem a grandeza de uma sociedade, de uma nação pela cotação de seus valores bancários, pelo número e importância de suas indústrias, pela tonelagem de sua marinha, pelo poder de seus armamentos. É o culto do progresso material e da violência das armas. Cada arranha-céu que se levanta e cada novo canhão mais possante e destruidor que se inventa, suscita o maior entusiasmo, a maior admiração. E conclui-se que essa nação é indiscutivelmente a pioneira da humanidade.

Será real, porém, esse título quando aplicado aos que procuram apenas o denominado “progresso”, que se mede por valores materiais? É uma regra geral que a elevação de uma alma depende da grandeza dos objetos de que ela se ocupa. Por outro lado, as nações são grandes por causa dos indivíduos que as compõem. Se todas as preocupações dos homens se voltam somente para a Bolsa, ou as minas, ou as indústrias, ou as ciências, ou os armamentos, poderemos dizer que esses homens são verdadeiramente grandes? O homem se assemelha ao que trata e neste caso o pensamento desce do alto para nivelar-se à matéria. O homem não procura mais os cumes, atingíveis somente por atalhos estreitos, mas prefere rodar pelas estradas asfaltadas da planície da mediocridade.

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A ciência humana e o progresso material não bastam, por si sós, para dar poder a uma nação. Dar-lhes-ão talvez brilho, mas não poder. Não podemos pedir à ciência, a virtude. Ela está fora de seu alcance. E a prova está em que existem sábios, homens que atingem grandes conhecimentos humanos, mas dotados de uma alma vil. E nem sempre a ciência veio favorecer as massas. De um lado as corrompeu, do outro as entregou à morte e à destruição.

O mesmo se diga do “progresso”, como o considera a generalidade dos homens de hoje. Com a procura única do conforto, do luxo, do prazer, os homens perderam o espírito de sacrifício, para só procurarem vencer pela aplicação do princípio evolucionista da sobrevivência do mais forte. É a ciência material, puramente material, trazida para o campo social. O resultado é a rebelião dos oprimidos, a luta de classes, guerra social. E em vez de serem as pioneiras da humanidade e em vez de terem um grande poder, as nações entregues apenas à ciência e ao progresso humano se rebaixam e se destroem.

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Toda a ciência e todo o progresso são lícitos e desejáveis quando assentados em princípios que lhes permitam terem um verdadeiro fim moral. E estes princípios que levam à procura do bem geral tendo em vista o fim último do homem, que é Deus, se encontram no Catolicismo. Só neste existem, dizia Lacordaire, “idéias imutáveis que apesar da mobilidade do tempo, apesar da instabilidade do espírito humano, subsistiram sempre, e nas quais se sente uma raiz de perseverança e de imortalidade, na raiz granítica e ao mesmo tempo fecunda, de maneira que o que há de mais duro, o diamante, nos representa estas idéias imutáveis, sem que sua dureza extrema exclua seu movimento e sua floração no universo”.

É nesses princípios que se irá buscar o ideal. E a intelectualidade será a primeira a ganhar com essa base firmíssima. Não mais anarquia, não mais ceticismo, não mais individualismo. Será a ordem nas idéias, a segurança de pensamento, a fraternidade cristã, o acordo entre as inteligências para o bem geral, para o verdadeiro progresso, para o máximo de bem estar possível neste mundo precário e perecível. Recristianizar-se é, pois, a única necessidade do mundo contemporâneo.

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A manifestação de domingo último, no Rio de Janeiro, a grande Concentração Mariana Nacional que reuniu os moços católicos de norte a sul do país é uma garantia de que em nossa Pátria se processa essa recristianização desejada e apontada  pelo Sumo Pontífice como a finalidade da Ação Católica. Por toda a parte o sopro vivificante do Catolicismo empolga as almas moças. Trabalhando para a elevação do nível intelectual de nossa Pátria, trabalhando para o seu progresso material, a nossa gente sabe que só dará verdadeiro poder ao Brasil se todo o trabalho for impregnado pelos princípios eternos da doutrina católica.

É a reflexão que surge espontaneamente a quem assistiu a Concentração Mariana Nacional. Só à sombra do Catolicismo e só pelas mãos de Nossa Senhora o Brasil virá a ser uma grande nação. É necessário que os católicos não sejam agora indecisos ou dispersos. Todos os seus esforços devem voltar-se em união com as autoridades religiosas, para que toda a organização de nossa Pátria seja calcada nos princípios da Igreja Católica. Não são possíveis, pois, fraqueza e dispersão: não hesitar, não temer e não procurar além, julgando que apenas a elementos estranhos deva caber a recristianização do Brasil. A Igreja exige dos católicos que sejam eles, e só eles, os realizadores da missão providencial que Deus destinou à Terra de Santa Cruz.


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