Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Moral e política

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de abril de 1937, N. 238, pag. 2

 

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O Brasil está em época de agitação política. Aproxima-se a sucessão presidencial, os espíritos se exaltam, os aproveitadores lançam a confusão em todos os setores.

Aos católicos temos apenas que recomendar o máximo de serenidade. Não seja por sua inabilidade, que aumente a fogueira. Ao lado dela existe um grande depósito de explosivos. Se aquela aumentar é certo que este saltará. E se o comunismo tomar pé em nossa Pátria, teremos a maior das catástrofes. Por isso é necessário que os católicos se mantenham serenos e confiantes, atentos à voz de suas autoridades. E só dessa maneira procederão patriótica e catolicamente.

 

Joseph Vialatoux (1880-1970) foi um filósofo católico francês

Aos políticos, porém, temos que lembrar a dependência intrínseca e direta do conhecimento político em relação ao conhecimento moral. “O conhecimento político não é possível, como tal, e só atinge seu objeto próprio na esfera e na atmosfera do conhecimento moral”, escreve Vialatoux. O Estado tem, portanto, um fim próprio, um bem temporal que é, em sua natureza íntima, meio para a perfeição humana completa. O Estado não pode, pois, ignorar o fim último do homem, seu destino eterno, se quer promover completamente a perfeição humana.

Vialatoux dá um exemplo para mostrar a situação do Estado diante da Moral:

“Seja, diz ele, uma estrada a ser construída com um determinado fim. É necessário que ela o atinja, tal é o princípio. Dele não se poderiam deduzir, entretanto, o traçado da estrada por montes e vales, a utilização dos acidentes do terreno, as rampas, as curvas etc. Tudo isto constitui o trabalho dos engenheiros. E se depois de construída a estrada, o tempo determina alterações nos acidentes geográficos do terreno — coisa tão frequente nas montanhas — é preciso modificar o roteiro da estrada.

Em política, a finalidade, o destino, é o bem público, o qual não é cognoscível em sua íntima natureza, senão como uma dependência do Bem último do homem e, portanto, da Moral. As maneiras oportunas variáveis, mutáveis, de utilizar da melhor maneira, para o serviço do bem público, os acidentes históricos do terreno social, eis o que se pode chamar, se assim se quiser “puras questões políticas”. Chamá-las “puras” é uma maneira de dizer que elas pertencem “propriamente” à gestão do bem público; mas não é libertar esta gestão da finalidade que ordena o bem público da cidade, como todos os bens humanos ao Bem último do homem. Libertar desta ordem final uma forma qualquer de atividade humana, econômica ou política, é recair no Liberalismo”.

É necessário, porém, não tombar no erro oposto isto é pretender que o “fim próprio” do Estado é procurar para os homens a perfeição moral completa no Bem espiritual sobrenatural. Este é o “fim próprio” da Igreja e só dela. Não é ao Estado que ele pertence. E diz ainda o mesmo Vialatoux:

“Atribuir ao Estado este objeto direto (procurar para os homens a perfeição moral completa no Bem sobrenatural) seria ir ao encontro desta verdade, inseparável à essência mesma da sua natureza espiritual e da graça cristã, que de uma parte, se pode pertencer invisivelmente à Igreja (à alma da Igreja) sem ser ex professo católico, e, de outra parte e principalmente, que se pode ser católico nominal e visivelmente, sem ser realmente um “fiel” da Igreja”.


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