Plinio Corrêa de Oliveira

 

Conditio sine qua non

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de março de 1937, N. 235

 

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Os debates travados recentemente na Câmara dos Deputados revelam a enorme desorientação que, em matéria de repressão ao comunismo, reina entre os nossos políticos. Essa desorientação se manifestou não apenas no seio da minoria parlamentar, mas ainda nas fileiras da maioria.

Em geral, os deputados da maioria sustentaram que o perigo comunista era, agora, mais premente do que nunca. E não houve uma só voz que se erguesse para lhes perguntar simplesmente duas coisas muito comezinhas:

1) que uso fez o Governo das prerrogativas excepcionalíssimas de que está investido, para reprimir o comunismo? Como explicar que, depois de 15 meses de regime especial, o comunismo não só se conserve incólume, mas apresente pujança maior do que em 1935?

2) se o perigo comunista continua tão premente, como explicar que tanto a polícia quanto o Tribunal de Segurança estejam adotando uma linha de conduta cada vez mais tolerante em relação aos conspiradores de 1935?

O comunismo ataca e fere de morte o instituto da família e a propriedade individual. É o inimigo n.º 1 da Religião. Em uma Câmara de mais de 200 membros, é de supor-se que a Religião e a propriedade individual e a família tenham defensores numerosos. No entanto, nenhuma voz se levantou para formular essas duas perguntas da máxima importância. Não somente silenciaram os burgueses, mas os integralistas e, dor suprema, até os católicos!

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Os representantes da minoria, porém, não foram menos contraditórios e menos cegos. Em geral, negaram a prorrogação do estado de guerra. O Sr. Seabra, no entanto, deu o brado de alarme contra o crescente perigo comunista. Outros membros da minoria são de seu parecer. Mas ninguém vê que se o perigo cresce, a repressão também deve crescer, e que o grande dever da hora presente não consiste em corroer as prerrogativas governamentais, mas em impor que o Governo se sirva delas eficientemente, para a vitória da civilização.

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Infelizmente, porém, entre nós católicos, a confusão não é menor. Seria interessante, para demonstrá-lo, fazer um teste. O teste consistiria em perguntar aos católicos de maior projeção nas fileiras do laicato, o que pensam em matéria de comunismo. Se acham o perigo grave, ou não. Se o consideram próximo ou remoto. Se o consideram fruto de nossas condições sociais, ou resultante de exploração estrangeira. E sobre o modo mais eficiente para a sua repressão e prevenção.

Estamos absolutamente certos de que esse inquérito produziria as maiores surpresas, demonstrando que, unidos embora nas questões doutrinárias, os católicos divergem imensamente entre si na apreciação da situação concreta a que devem aplicar tais princípios.

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Não quer isto dizer que haja correntes de pensamento muito diversas entre os católicos militantes. O que há - DURA VERITAS, SED VERITAS - é um verdadeiro caos. Impressões colhidas a esmo, ressentindo-se da imperfeição própria aos observadores que consideram tudo do ponto de vista do ambiente social em que vivem, idéias gerais muito pouco precisas etc., etc. E, com isto, a maior disparidade no modo de conceber a ação concreta, necessária para que, no terreno cívico, a atividade dos católicos seja mais eficiente.

O resultado desta situação é fácil de se prever. Desde que condições ou circunstâncias “h” obriguem os católicos a se definir em matéria em que o Episcopado não queira nem deva envolver-se, eles não terão um ponto de acordo no terreno prático. Acertarão vagas diretrizes doutrinárias. Lamentar-se-ão, resmungarão e, no momento de se coordenarem, divergirão.

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Para corrigir esta situação que se choca fundamentalmente com todos os princípios admitidos em matéria de Ação Social Católica, cumpre que os católicos tratem de se esclarecer.

Nas magistrais conferências que realizou nesta capital o Rev.mo Pe. Paul Dabin disse que é indispensável, para a Ação Católica, “conhecer cientificamente o terreno em que age”. Com isto, quis o emérito Jesuíta significar que a Ação Católica deveria conhecer perfeitamente bem as condições políticas e sociais em que se desenvolve. E que o cuidado na formação desse conhecimento deveria ser tal que não deveriam ser desdenhados os processos mais delicados da ciência, para obter resultados satisfatórios.

Essa verdade é de simples bom senso. Qual o general que presume ganhar uma batalha sem conhecer perfeitamente bem o terreno? Qual o médico que pretende receitar remédios com acerto sem conhecer exatamente o doente? Se a Ação Católica é um exército, e se a doutrina da Igreja é uma medicina, por que motivo há de ser ministrada esta ou deve ser dirigido aquele com menos inteligência e menos profundeza de vistas do que as coisas meramente humanas?

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Concretizando, depois de muitas e muitas reflexões, chegamos à conclusão de que constitui “CONDITIO SINE QUA NON” da precisão e da eficiência da Ação Católica, em matéria social, a organização de um aparelhamento controlador das questões sociais em São Paulo. Uma organização que possa dizer, com precisão, se em São Paulo há ou não há propaganda comunista, se essa propaganda fere de preferência os intelectuais ou os operários, se processa com agitadores estrangeiros ou já encontra favor entre os nacionais, se ela tem entrada fácil nos ambientes militares e escolares, se ela mantém afinidades com (...) o espiritismo, o protestantismo, ET COMITANTE CATERVA.

Muitas questões aqui feitas, para os que têm hábito de observar os acontecimentos com “esprit de finesse”, podem desde já ser respondidas afirmativamente. Outras deverão ser objeto de estudo mais acurado.

Mas enquanto não conhecermos as proporções exatas, as forças e os métodos dos exércitos que nos combatem, enquanto não soubermos com toda a precisão quais os pontos vulneráveis em que estamos sendo combatidos, do que nos serve todo o resto?


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