Plinio Corrêa de Oliveira
Os Mexicanos, nossos irmãos
O Legionário, 29 de novembro de 1936, N. 220 |
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É preciso que não se repita na América o grande erro político que caracterizou a diplomacia europeia, nos cem anos que medeiam entre a queda de Napoleão e a grande guerra. Entre 1815 e 1914, a Europa ardia em pleno incêndio revolucionário. As forças antimonárquicas e antissociais se infiltravam em todos os países europeus, abalavam todos os tronos, atacavam todas as instituições religiosas, e desconjuntavam todas as peças do velho edifício da Europa de Filipe II e de Luís XIV. Contra esta marcha ascendente da onda revolucionária, que providências tomaram as monarquias europeias? Praticamente nenhuma. Unidas, as chancelarias europeias poderiam ter esmagado a hidra revolucionária com um simples gesto. Desunidas, seriam devoradas por ela. E foi esta segunda atitude, que prevaleceu. Por quê? Porque a união de todas as forças da direita suporia necessariamente um largo entendimento internacional. E a miopia dos estadistas europeus não percebia, no terreno da diplomacia, outra coisa a tratar senão de estreitíssimos interesses econômicos e de pequeninas gloríolas nacionais. Enquanto se verteram rios de sangue pela posse de algumas jardas de terra no Schleswig-Holstein, na Alsácia-Lorena, na Silésia ou nos Balcãs, nem uma só gota de sangue foi vertida para a defesa da estrutura política e social da Europa. Excetua-se, apenas, nesta regra geral, o sangue heroicamente derramado pelos mártires de Castelfidardo [referindo-se aos zuavos pontifícios que morreram heroicamente defendendo o Papado naquela cidade próxima a Loreto, na Itália, n.d.c.]. O resultado desta miopia não se fez esperar: enquanto os monarcas europeus se consumiam em lutas estéreis para estender seus impérios, a Revolução, no interior de seus países, cavava a sepultura em que seriam sepultados seu cetro e sua coroa. E a Europa monárquica e cristã de 1815 se transformou na Europa laica e republicana de 1918. Se a América quer conservar-se insulada no grande dilúvio que ameaça o Ocidente e quiçá o mundo inteiro, precisa não repetir o mesmo erro. A diplomacia dos povos americanos não deverá tender simplesmente a conclusão de acordos aduaneiros vantajosos. É preciso que as inteligências alteiem mais os seus ideais. A meta de toda a verdadeira política interamericana é, atualmente, a defesa contra o comunismo. * * * Mas do que adianta esta defesa, se, em pleno coração da América, há uma Nação governada por Moscou? Enquanto os agentes comunistas continuarem a dirigir a política mexicana, dizimando as fileiras do clero, oprimindo os fiéis, confiscando propriedades, socializando a Nação, do que adianta a formação de uma frente única anticomunista contra a Rússia? O primeiro pensamento dos estadistas que se vão reunir na conferência pan-americana deve ser, portanto, a liberação do México. O Cristo Eucarístico que é profanado nas igrejas do México é o mesmo Cristo Eucarístico que adoramos em nossos sacrários. A civilização católica que se procura destruir no México é a mesma por que nós nos batemos no Brasil. Os princípios que nossos irmãos, os católicos do México, defendem com seu sangue, são exatamente os mesmos princípios que nós, católicos brasileiros, estamos dispostos a sustentar com o sacrifício de nossa vida. A união espiritual de todos os povos latino-americanos em uma Igreja que é Una, Santa Católica e Apostólica, é uma realidade objetiva e ativa; esta realidade nos impõe, no momento em que estiverem reunidos os representantes da América, um gesto de solidariedade para com nossos irmãos. Se o “Legionário” fosse o grande jornal católico de que o Brasil precisa, não tenham nossos leitores a menor dúvida sobre nossa atuação. Ouvidas respeitosamente nossas Autoridades Eclesiásticas, teríamos telegrafado para os jornais ou periódicos católicos de toda a América, pedindo-lhes que iniciassem uma forte campanha junto aos seus leitores, no sentido de telegrafarem à Conferência Americana, pedindo uma providência para aliviar a situação dos católicos mexicanos. De todos os países americanos, inclusive da própria América do Norte, teriam chovido milhares e milhares de telegramas sobre a Conferência. E esta veria, então, que para a América, não é preciso apenas o ouro burguês que se pretende pôr ao abrigo da sanha comunista, mas também - e principalmente - o ouro inestimável da Fé, que no México se está procurando roubar aos nossos irmãos. * * * Infelizmente, a imprensa católica ainda não tem, no Brasil, o vigor que lhe seria necessário para levar a cabo esta grande campanha, que contaria certamente com as bênçãos afetuosas do Santo Padre. Mas entre os estadistas que se vão reunir sob a presidência do Sr. Roosevelt, há muitos que se jactam de ser católicos. Será possível que, da parte dos católicos que integrarão a Conferência, não proceda uma única atitude de solidariedade efetiva e enérgica aos nossos irmãos do México? Será possível que eles se esqueçam do Cristo que é hoje ultrajado e perseguido no México, em Tampico, em Guadalajara, como outrora na Palestina infiel? |