Plinio Corrêa de Oliveira

 

O Barrete Frígio perante a Cruz, o sigma e a bandeira vermelha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, nº 215, 25 de outubro de 1936

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O acontecimento político mais sensacional da semana transata foi, indiscutivelmente, o discurso do Sr. Armando de Salles Oliveira, pronunciado na histórica cidade de São José do Rio Pardo. Seria um lugar comum, elogiar a elegância e a facilidade de estilo que distinguem todos os discursos do Governador do Estado. Orador moderno, o Sr. Armando de Salles Oliveira rejeitou decididamente os velhos tropos de retórica política, que faziam o enlevo dos tribunos e das massas até a Grande Guerra. Sóbrio, claro, preciso, o Governador paulista comunica a seus discursos aquela nota de distinção discreta e autêntica, que tantas vezes tem sabido demonstrar. A evidência destas qualidades dispensa comentários. Passamos, pois, por cima das virtudes literárias da alocução governamental, para examinar o seu conteúdo, que é o que mais interessa.

De há muito, vem "O Legionário" sustentando uma campanha perseverante, para fazer prevalecer entre os católicos alguns pontos de vista fundamentais para a fixação de nossas atitudes na política nacional. O discurso do Sr. Governador não nos fez alterar uma só linha a respeito de quanto dissemos em nossos números anteriores. Pelo contrário, veio dar-lhe esplêndida confirmação.

No seu discurso, o Sr. Armando de Salles Oliveira fixou a posição dos políticos filiados aos partidos liberal-democráticos, perante as três grandes correntes intelectuais que empolgam atualmente o Brasil: o Catolicismo, o Comunismo e o Integralismo.

Em nossa penúltima edição, dissemos já o que pensamos sobre o combate que, em todos os Estados, está sendo feito ao Integralismo. Católicos que somos, não temos, como tais, qualquer preferência política. Na apreciação dos fatos, não nos guia nenhum secreto pendor pela democracia ou pelo Estado forte. Temos em mente, tão apenas, os grandes interesses fundamentais da civilização católica do Brasil. E é à luz desses interesses que consideramos os acontecimentos.

Ora, parece-nos que os perigos devem ser combatidos com uma energia proporcional à sua gravidade.

Ninguém, por exemplo, combaterá um simples defluxo, com a mesma energia com que combate uma ameaça de pneumonia, pela claríssima razão de que o defluxo, por mais que incomode, não pode trazer, para o organismo, as consequências fatais que a pneumonia pode acarretar.

Aplicando à política este princípio de bom senso elementar, parece-nos que, por mais que os políticos liberal-democráticos hostilizem o Integralismo, eles nunca lhe poderão votar um ódio igual ao que merece o comunismo. Disse muito bem o Sr. Cardoso de Mello Netto, que o Integralismo invoca para si os princípios de Deus, Pátria e Família, próprios a todos os corações bem formados, e não apenas aos que envergam a camisa verde. Mas a simples ostentação desses princípios constitui para o Integralismo um título de glória. A doutrina do sigma poderá ser incompatível com os interesses nacionais, com as tendências de nosso povo, com as tradições de nossa história. Não o afirmamos nem o negamos. Mas reconhecemos perfeitamente aos liberal-democráticos o direito de o afirmarem, uma vez que é esta sua convicção. No entanto, nada neste mundo poderá justificar que eles tratem em pé de igualdade uma corrente que se proclama fiel aos "princípios próprios de todos os corações bem formados" com outra que, visando a destruição desses princípios, advoga a extinção de todas as Religiões, de todas as Pátrias e de todas as Famílias. Parece-nos, portanto, que a lógica exige que a democracia liberal, ao entrar na liça para combater o sigma, a foice e o martelo, tome em consideração esta circunstância de uma importância capital. E que empregue o melhor de suas energias, o mais vivo de suas forças, o mais proveitoso de suas reservas, para a luta contra o extremismo moscovita, ao qual nenhum homem de honra dá quartel.

A debelação do comunismo deve ser a preocupação principal dos nossos dirigentes. E - estejam eles disto certos - o sucesso de sua campanha anti-integralista está diretamente ligado ao sucesso de sua luta contra o comunismo.

Dentro em breve, começará a funcionar o tribunal especial, encarregado de julgar os comunistas presos depois de Novembro [referência à Intentona comunista, n.d.c.]. É nas mãos deste tribunal que está o destino da democracia. Se ele usar de toda a energia exigida pela justiça, a parte mais sadia da opinião pública começará a crer na eficiência dos meios de defesa de que dispõe o Estado atual. Mas se o menor gesto de fraqueza indicar a insegurança das instituições básicas do nosso País, é inevitável que os olhos ansiosos dos chefes de família e dos homens crentes justamente alarmados pelos perigos com que se defrontam, comecem a procurar soluções novas.

O outro grande recurso de que deverá lançar mão o Estado atual é uma legislação social inteligente, que não esteja eivada dos excessos burgueses ou socialistas, tão frequentes nas leis promulgadas pelos Estados democráticos. Se a democracia souber aliar a uma ação policial e judiciária enérgica, uma legislação social inteiramente católica, limpa de taras burguesas ou socialistas, ela terá aberta diante de si a porta pela qual seja possível vislumbrar-se sua salvação. Que ela não o faça, e os seus dias estarão contados, ainda que se alinhem entre seus defensores homens da envergadura intelectual e administrativa do Governador do Estado.

*   *   *

Abordando este aspecto do problema, tocamos exatamente em um dos pontos mais melindrosos, para nós, do discurso do Sr. Governador. Polícia enérgica, justiça severa e imensas doses de um largo Catolicismo social são os três principais remédios para a situação.

As afirmações cristãs do Governador do Estado, ressoaram, pois, agradavelmente aos nossos ouvidos, máxime no momento em que o Sr. General Rabello promovia, para a maior glória (ou talvez para o contrário disto) da memória de Benjamim Constant, homenagens que feriram profundamente os sentimentos religiosos de nosso povo.

Mas cabe-nos fazer, a propósito das expressões religiosas de que se serviu o Sr. Armando de Salles Oliveira, a mesma observação que já temos feito a certos livros ou discursos integralistas: seria melhor falar claramente em Catolicismo, do que em Cristianismo. Catolicismo é a palavra que distingue o Cristianismo autêntico das falsificações heréticas ou cismáticas: Cristianismo é uma palavra usada indistintamente por inúmeros fautores de erros e de heresias, como por exemplo os protestantes.

No Brasil, a palavra "Cristianismo" só tem seu som nacional e seu sabor de autenticidade, quando acompanhada do adjetivo "católico". Em matéria religiosa, dever-se-ia dizer sempre Catolicismo, ou, o que seria melhor, "Cristianismo Católico".

Simples questão de forma? Não. A palavra "católico" dá um significado preciso e altamente expressivo à palavra "cristianismo". Há uma apreciável dose de ecletismo religioso no simples vocábulo "cristianismo", quando ele aflora aos lábios de nossos políticos.

E é contra este ecletismo que protestamos. Porque, se o Brasil tiver de se salvar, sua tábua de salvação não será um vago cristianismo, diluído segundo o paladar variável de cada um de nossos estadistas, mas o Catolicismo, que é sua única expressão autêntica.


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