Plinio Corrêa de Oliveira
Cobras, cordeiros e governadores
O Legionário, 11 de outubro de 1936, n. 213 |
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Reputamos inteiramente errônea a tática de que se está servindo a liberal-democracia para se defender contra as investidas do Integralismo. Por mais de uma vez, temos feito nossas reservas categóricas ao Integralismo. Ninguém, portanto, nos pode suspeitar de correligionários dos "camisas verdes". Católicos que somos, estamos ao lado das autoridades constituídas sempre que, à mão armada, se procurar expulsá-las do Poder. Declaramo-nos, portanto, plenamente solidários com as medidas repressivas que os tribunais vierem a aplicar contra os integralistas dos quais realmente se prove que conspiravam contra a ordem pública. Será, pois, inútil que alguém procure vislumbrar, no que se segue, o mais leve desejo de subtrair à ação da justiça aqueles que, realmente, merecerem as penas determinadas pela lei. Não fazemos obra de acusação nem de defesa. Somos meros críticos, e críticos imparciais. Mas se em vez de críticos imparciais fôssemos adversários políticos do Integralismo, aconselharíamos, aos governadores que ora o perseguem, uma tática diametralmente diferente da que eles vêm adotando. Qual a grande acusação formulada pelos integralistas contra o liberalismo? Que ele dissolve a família, corrompe a idéia de Pátria, solapa as instituições fundamentais de nossa civilização e, com isto, abre as portas ao comunismo. Qual a constante censura com que eles indispõem as massas contra os detentores do poder? Que estes são agentes da judeu-maçonaria e que, portanto, não têm nem vontade nem forças para combater energicamente o comunismo. Qual a invariável promessa com que atraem para as fileiras verdes os seus partidários, cada vez mais numerosos? Que o integralismo reprimirá com pulso de ferro as intentonas comunistas, e, revigorando os alicerces cambaleantes da civilização, tornará refratário o terreno à semeadura de idéias subversivas. A essas acusações e a essas promessas, cumpre dar uma resposta. E grande o número de governadores de Estado têm respondido a uma como às outras, com um argumento muito débil aos olhos da opinião pública: a perseguição. Fechar a boca dos adversários não é provar que eles estão errados. Há uma dialética mais eficiente do que esta. E, raramente se tem feito uso dela. É preciso, para que se extirpe o Integralismo, extirpar o comunismo. A opinião pública acompanha com atenção constante e apaixonada o que as autoridades fazem, ou deixam de fazer, em prol da causa ameaçada da civilização. E, francamente, em mais de um Estado, o que as autoridades fazem é imensamente menor do que o que elas deixam de fazer. De todas as partes, nos chegam notícias desagradáveis. Ora nos informam que no Estado A os presos políticos podem se comunicar livremente, e sem a menor fiscalização com seus visitantes. Ora nos afirmam - e demonstram, o que é mais grave - que no Estado B, os comunistas conseguem facilmente a liberdade condicional. Ora, finalmente, verificamos que a polícia do Estado P dormita tranqüilamente, enquanto o comunismo reorganiza suas hostes. O que nós vemos, toda a opinião pública também o vê. E, diante de uma situação tal, como evitar que a prédica do integralismo obtenha uma estranha repercussão? Que a democracia mate pela raiz o comunismo. Que ela desenvolva contra a gangrena vermelha, com braço mussolínico, uma meticulosa campanha de extermínio. Que ela prejudique a ação dos agitadores não só com medidas repressivas, mas com sábias e eficientes medidas de prevenção social. Que, sobretudo, se dê mão forte à Igreja, para que Esta dissemine em todos os setores sociais aquela irradiação religiosa da qual foge o comunismo como a toupeira foge da luz. E o integralismo se verá desfalcado das melhores armas com que luta atualmente. Leão sem garras, poderá urrar, mas já não poderá ferir. E, aos poucos, seus urros diminuirão e se sumirão dentro do ambiente geral de felicidade e despreocupação. No dia em que se tiver exterminado o comunismo, terá sido golpeado de morte o integralismo. Se se quer arruinar os vendedores de soro, matem-se as cobras. Infelizmente, porém, não é esta matança de cobras que assistimos. Enquanto as cobras são calidamente tratadas nos serpentários, dissolvem-se os grupos dos que queriam matá-las por processos bons ou maus, pouco importa. E, principalmente, olha-se com indiferença aqueles que, em lugar de matar as cobras, têm o dom infinitamente superior de, quando se trata de cobras políticas, transformá-las muita vezes, pela ação contagiosa do amor, em alvos e mansos cordeiros: a Igreja Católica. É acertada esta tática? Quem ousará afirmá-lo? Quem não vê que entre uma democracia inerte perante Moscou e um extremismo da direita, até os amigos da primeira preferirão o segundo? Não há, nas fileiras democráticas, quem denuncie o erro e evite o suicídio? |