Plinio Corrêa de Oliveira

Legionário, 4 de outubro de 1936, N. 212, pag. 2

Um cavalheiro que se faz de engraçado e que se subscreve “Diágoras”, escreveu há dias no “Estado de S. Paulo” um longo artigo para dizer que entendeu... Kant. Se isso é verdade nós não o sabemos, e mesmo o duvidamos, pois as amostras dadas quanto a outros assuntos não são muito convincentes. Senão, vejamos.

Diágoras diz que em criança teve primeiro um professor que lhe deu “terríveis aulas de catecismo e teologia” (sic); passou depois a um colégio protestante onde entre outras coisas importantes conheceu “os primeiros espécimes da fauna norte-americana, na pessoa de soporíferos pastores e de megéricas missionárias metodistas”. E concluiu, diz ainda Diágoras, que “todos os bípedes do México para cima seriam os mais perfeitos palermas deste mundo”...

Agora, porém, com uma “História da Filosofia” do americano Will Durant, traduzida para o português, Diágoras aceita que há “norte-americanos com inteligência para dar e vender”, e acha também que... entendeu Kant! Ora, há provavelmente americanos inteligentes, mas o exemplo dado não é certamente o mais probante.

É assim que Will Durant acha de Sócrates que “tem ares de um homem bem alimentado”; para Xantippa, porém “era ele um mandrião”. No que diz respeito depois ao Clero Católico, acha Will Durant que “o celibato lhe dava uma aparente superioridade quanto aos reclamos da carne”; Voltaire é para ele “talvez máxima energia intelectual de toda a história”. E mais adiante, a propósito de Hegel, diz o americano que “dos ovos de Hegel, professor imperial, saíram os pintos do socialismo“.

Esse é o estilo da tal “História da Filosofia” de Will Durant; nela achou Diágoras o meio de compreender Kant.

Na verdade, isso não o recomenda; precisar recorrer a um livro humorístico para entender Kant e achar que fazer “História de Filosofia” é fazer graçolas, não é grande coisa...