Plinio Corrêa de Oliveira
Por que?
Legionário, N.º 192, 1° de março de 1936 |
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Não adianta fazer literatura e encobrir, com flores de retórica, uma bela verdade que não é fácil fazer retiro espiritual. Na maioria dos casos, o retiro espiritual é um ajuste de contas de alguém consigo mesmo. Quando se calam na alma as preocupações mundanas, a consciência fala alto. E nem sempre o seu veredictum é dos mais satisfatórios. Fazer um retiro espiritual é pôr toda a vida, minuciosamente esquadrinhada, em paralelo com as grandes verdades do Catolicismo... nossos hábitos, nossas opiniões, nossas atividades, são passados pelo crivo. Mesmo as almas mais piedosas e mais perfeitas encontram freqüentemente, em tais exames, pequenas falhas a corrigir, pequenos defeitos a retificar, pequenos hábitos a reformar. E o resultado de todo o retiro bem feito é sempre uma série de restrições mais ou menos dolorosas — conforme o caso — a fazer às nossas falhas morais. Em salões imensos, a mocidade mariana ouve atenta o pregador, enquanto estruge pelas ruas o carnaval. Os temas das pregações são, em geral, a morte, o pecado, o juízo, o amor de Deus pelos homens, e outras verdades fundamentais da doutrina Católica. Freqüentemente, as palavras caem na alma como gotas de fogo. Os olhares se tornam pensativos, os semblantes carregados. Enquanto tudo sorri em torno dela, a mocidade mariana pensa... E pensar custa muito a tanta gente! Enquanto isto, a mocidade não católica se diverte... Um processo diametralmente oposto se verifica em sua alma. O silêncio se faz para a consciência, e todos os sentidos são escancarados aos prazeres da vida, ao bulício doido do carnaval. O que pensa o mundo dessas duas falanges de moços? Despreza a primeira e estimula a segunda. Quanta Congregação Mariana desprovida de tudo quanto é necessário ao seu normal funcionamento! Sem sede, sem material de escritório, sem dinheiro para as mais elementares despesas, os seus membros vão, não obstante, caminhando para a frente, na cruzada da marianização do Brasil, entre os risos de uns, o ódio de outros, e a simpatia de poucos. As Congregações procuram trabalhar pela grandeza do Brasil. Sua máxima é o espezinhamento do egoísmo, para a grandeza da Igreja e da Pátria. Qual, no entanto, o braço amigo que, fora dos arraiais católicos, se lhe estende para auxiliá-la em tão nobre luta? Nenhum. Pelo contrário, os clubes carnavalescos recebem todo o amparo. As subvenções, gordíssimas, dão para custear a construção de duas ou três sedes de Congregação. À sua passagem, cordões de grilos se alinham, para deixar livre transito à procissão do rei Momo. Enquanto não há uma única praça pública em São Paulo que tenha um monumento relacionado com assuntos religiosos (exceção feita ao monumento a Santo Antônio), Momo já tem seu lugar de honra marcado, na praça Antônio Prado. E ai de quem procurar destroná-lo! Quanto à imprensa quotidiana, exceto algum protesto — não raramente eloqüente — das seções religiosas, nada se lê contra o Carnaval. Nada se lê também sobre os retiros espirituais. E, por outro lado, o menor clube carnavalesco da várzea encontra acolhida fervorosa nas colunas dos grandes diários. Por que isto? Por que alcança Momo tanta simpatia enquanto uma frieza glacial acolhe tantas vezes a atividade mariana? É porque não temos um meio de atingir o grande público, mostrando-lhe a verdade com palavras amorosas e persuasivas. Para prová-lo, basta que façamos a seguinte reflexão: se existisse o rádio católico, teria tido tanto êxito o carnaval? Se tivéssemos imprensa católica, seriam tantos os sequazes de momo? Evidentemente não. Não culpemos o grande público. Ele não tem, em geral, quem lhe faça ver a verdade a respeito de uns tantos pontos desfigurados pela imprensa diária, entre os quais o carnaval. Se os bons fossem melhores, os maus não seriam tão maus. Se os filhos da luz fossem mais dedicados aos interesses da Santa Igreja, se eles amassem mais entranhadamente a verdade religiosa que professam, certamente já teríamos um grande jornal católico, e o rádio católico já seria uma realidade. |